06.07.2009, Paulo Ferreira, Público
Tudo corre mal no PS. A polémica da proibição de candidaturas simultâneas é só o último caso.
Confirma-se que o PS e o Governo estão a atravessar um mau momento. Já é grande a sucessão de episódios que mostram desnorte na tomada de decisões.
É um erro pensar que tudo começou nas eleições europeias e atribuir à forte queda da votação socialista a origem de todos os males. É essencial distinguir entre causas e consequências e os votos dos leitores fazem sempre parte do segundo grupo e não do primeiro.
O que o resultado das europeias veio trazer de novo, sobretudo aos próprios dirigentes socialistas, foi uma noção de fragilidade política, de vulnerabilidade eleitoral e de possibilidade real de serem derrotados nas urnas que eles ainda não sentiam desde o errático Governo de Santana Lopes.
Sem capital político para esbanjar, o desgaste que resulta sempre da polémica, do confronto e da crítica é o que menos convém neste momento a José Sócrates. Daí, como ontem assinalava Vasco Pulido Valente, os recuos sucessivos e recentes nos calendários dos grandes investimentos, no caso da PT/TVI e na defesa do sistema de avaliação dos professores. Ou a pronta demissão de Manuel Pinho na sequência do seu gesto feito no Parlamento. O ministro da Economia cairia se o que se passou na quinta-feira tivesse acontecido há um ou dois anos? É pouco provável. Nessa altura ainda Sócrates sentia que tinha um crédito político suficientemente elevado para pagar o custo da manutenção de Pinho.
O que se está a passar com a súbita proibição das candidaturas simultâneas nas autárquicas e nas legislativas é mais um sintoma da confusão que se instalou no Largo do Rato.
No essencial, a decisão está correcta. É uma questão básica de honestidade para com os eleitores que quem se candidata a um cargo tenha a expectativa de o cumprir até ao fim no momento preciso em que pede que votem em si. E isso não acontece com os que se desdobram em várias listas. O candidato à presidência de uma câmara municipal sabe que, se ganhar, não vai cumprir o mandato de deputado para o qual tinha sido eleito semanas antes. Para quê, então, aceitar integrar a lista de deputados do partido? Só há duas respostas possíveis: ou quer evitar ficar sem emprego e por isso duplica a sua aposta eleitoral; ou o partido acha que a presença daquele candidato na lista das legislativas pode atrair eleitores. Mas nenhuma destas razões é nobre ou sequer aceitável. No primeiro caso, o candidato está a trair eleitores para resolver o seu problema de empregabilidade. No segundo caso, o partido está a trair eleitores acenando--lhes com candidatos que, na expressão de Elisa Ferreira durante a campanha europeia, são só "para dar o nome".
Não é preciso ter especiais princípios de ética política para concluir que a preocupação com a transparência e a proximidade da relação entre eleitos e eleitores, que muitos políticos gostam de utilizar para embelezar discursos, é incompatível com este tipo de práticas.
OPS decidiu no sentido correcto. Mas é uma decisão oportunista, de puro tacticismo eleitoral. Se fosse genuína, tinha sido tomada há meses, quando as listas para o Parlamento Europeu foram elaboradas, impedindo logo aí que Elisa Ferreira e Ana Gomes, candidatas assumidas às Câmaras do Porto e a Sintra, acumulassem candidaturas.
O erro cometido, a polémica que abriu e o custo eleitoral que o PS calcula que terá pago levaram o partido a meter-se agora neste atalho. O resultado das decisões tomadas sob pressão da calculadora eleitoral está à vista. As divisões internas não demoraram a aparecer, entre os que aplaudem e sempre defenderam a medida, os que a contestam, os que criticam a sua oportunidade ou os que despudoradamente acham agora "razoável" que se impeçam os outros de fazer a mesma coisa que acabaram de fazer, como Ana Gomes.
Em nome do decoro, o PS não devia ter invocado a "elevação da qualidade da democracia" quando anunciou a decisão. Porque elevação é coisa que não existe aqui.
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