05 novembro, 2011

Partida

Iniciado em 2003 o dois dedos de conversa foi sendo alimentado amiúde. Agora, que os tempos são outros, há outras praias a exigir presença...e, por isso, este espaço vai ser descontinuado.
Parto. Sem dor.

Aos que ousaram acompanhar-me um sincero agradecimento pela companhia que fizeram.
Continuo por aí no ciberespaço.
Até já.

Gonçalo Simões

19 julho, 2011

Desvios colossais

José Vítor Malheiros, Púlico

As coisas não são como devem, nem como parecem, nem como nos dizem que são.

Entre as promessas da campanha eleitoral e a governação. Entre prometer que não haverá corte no subsídio de Natal, garantindo que fazer isso seria um "disparate", e decretá-lo passado umas semanas, declarando que se trata de uma medida indispensável.

Entre a equidade que a lei e a simples decência impõem que exista no tratamento dos cidadãos pelo Estado e o facto de o imposto extraordinário incidir apenas sobre os rendimentos do trabalho, os únicos rendimentos dos mais pobres, isentando juros de depósitos, dividendos de acções e lucros de empresas, que são os rendimentos dos mais ricos.

Entre a realidade do imposto extraordinário e as declarações feitas sobre o mesmo pelos partidos da direita: "É pedido um esforço maior a quem pode mais" (Luís Montenegro, PSD).

"Quem aufere mais rendimentos suportará a esmagadora maioria da receita deste imposto" (João Almeida, CDS).

Entre a justiça distributiva, que é uma das razões de ser do próprio Estado, e o primado da defesa dos privilegiados, que o Governo assume, cobrando o imposto extraordinário aos trabalhadores que ganham mil euros, mas esquecendo-se dos donos dos iates que ganham um milhão.

Entre o rigor com que se conhecem, se controlam, se cruzam e se taxam os rendimentos do trabalho e a enorme dificuldade existente para conseguir detectar as "manifestações de fortuna" e cruzar os dados que dizem respeito aos mais ricos, que acabam por beneficiar, ano após ano, de uma amnistia de facto.

Entre os impostos que deviam ser cobrados às empresas e aqueles que são efectivamente cobrados, devido a prescrições e aos esquecimentos vários a que a Inspecção-Geral de Finanças chama a "inércia dos serviços".

Entre o dramatismo com que a direita constata o défice de 450 milhões de euros no Serviço Nacional de Saúde e a displicência com que acha que se deve tirar cinco ou dez mil milhões do bolso dos contribuintes para tapar o buraco do BPN.

Entre o tratamento fiscal dado em geral aos mais ricos e o que é dado aos mais pobres, com o argumento de que o capital pode fugir do país e os trabalhadores pobres, esses, não fogem.

Entre as juras de que a austeridade tem como único objectivo salvar o Estado social e o secreto desejo da direita de desmantelar o Estado social, de transformar os serviços gratuitos para todos em serviços pagos para alguns e de transformar os trabalhadores em proletários.

Entre os impostos que pagam as empresas com sede em Portugal e as que instalaram discretamente as suas sedes na Holanda ou noutros paraísos fiscais, para poderem continuar a beneficiar das infra-estruturas pagas pelos contribuintes portugueses sem terem de contribuir para elas.

Entre os compromissos de tantos políticos, que juram solenemente dedicar a sua vida à defesa da causa pública e a sua defesa das grandes empresas, onde esperam ser nomeados administradores depois de deixar o Estado.

Entre a forma como os empresários gostam de se apresentar - geradores de inovação, defensores da concorrência, amantes do risco - e a realidade de muitos, embolsando os lucros quando as coisas correm bem e exigindo compensações aos contribuintes quando correm mal.

Entre o que devia ser a separação partido-Estado e a realidade da proposta feita no PSD, de nomeação de comissários políticos nos ministérios para facilitar os contactos com dirigentes e autarcas sociais-democratas.

Entre a indignação que as pessoas sentem por uma situação para a qual não contribuíram, mas da qual têm de pagar os custos e a indignação que deixam transparecer.

Entre a indignação que as pessoas sentem e a que deviam sentir por estarem a ser empurrados para o patamar da mera sobrevivência nesta guerra civil que a ganância dos mais ricos trava contra a dignidade dos mais pobres.

02 junho, 2011

Estado de consciência

Pedro Lomba, Público

Não faríamos justiça aos anos de Sócrates, nem compreenderíamos bem o que nos fica, se os resumíssemos a uma experiência de mau governo, ou se pensássemos só no desastre económico e social que temos pela frente. Tudo isso é grave e mais que suficiente para o afastarmos do cargo que ele ainda ocupa. Mas Sócrates não foi o primeiro, nem será o último, a cometer erros que agravaram a crise, e se ele é execrado (verdade que o mais execrado), outros foram também execrados.

O que pretendo dizer é que nestes seis anos com Sócrates no poder houve uma dimensão banal, visto que podemos esperar que os políticos encenem e se encenem e podemos esperar que usem todas as artimanhas retóricas. Essa é a banalidade que em última análise caracteriza o político nas democracias, transformando-os em criaturas maquinais que repetem guiões pré-preparados.

Mas não é a banalidade que resume estes anos. O socratismo (uso a palavra por conveniência) precisa de ser compreendido como outra coisa mais sofisticada e insidiosa que sucedeu na política portuguesa. É usual falar-se de "propaganda", "marketing", "culto da imagem", "mentira" e é verdade que os governos de Sócrates estiveram cheios disso. Podemos recorrer a palavras que foram repetidamente usadas por comentadores e políticos, mas que pecam por serem também elas imprecisas, metafóricas, ou poderem ser vistas como formas de propaganda contra a propaganda ("asfixia", "claustrofobia", "envenenamento").

O ponto principal, no entanto, reside no modo como Sócrates se colocou no nosso espaço público, essa frágil arena que serve de alicerce à democracia. Nenhum primeiro-ministro na nossa História democrática pôs em prática, com a cumplicidade e serviço de diferentes interessados, uma autêntica operação de apropriação e canibalização da esfera pública como fez José Sócrates.

Nunca se viu Sócrates esclarecer por esclarecer e informar por informar - e não faltaram ocasiões de alarme para tal. Vi-o sempre, em 2009 e agora, empenhado na codificação da mensagem, criando por métodos de propaganda e contra-informação um mundo ficcional e paralelo, para que os eleitores digerissem o que ele propunha, porque, não conhecendo eles a exacta dimensão dos factos e não sabendo mais separar entre a verdade e a mentira, restar-lhes-ia conformarem-se e aceitarem.

Como Pacheco Pereira uma vez escreveu, este é um jogo que Sócrates sabe jogar melhor do que os outros. Mas é preciso lembrar que também foi ele que encontrou as condições ideais para o jogar. O nosso sistema político foi pesadamente condicionado nos últimos 20 anos pelas televisões privadas, pela fragilidade financeira dos media e pelo crescimento de um poder económico entalado entre o público e o privado que prospera à custa das relações de favor e influência que obtém junto do poder político.

Essa correlação de forças tornou-se nesta década mais perigosa e instável. Foi ela que permitiu a Sócrates estabelecer alianças com outros poderes: o económico, financeiro e mediático; colocar os seus apaniguados nos bancos e nos media; agir obsessivo e vingativo contra os adversários; usar até não poder mais as agências de comunicação e os recursos do Estado.

A crise que ele nos deixa não está apenas nos números da economia. É uma crise do nosso reduzido estado de consciência. Sócrates venceu, porque nos pôs a pensar como ele, semiconscientes, semiadormecidos, ouvindo e falando maquinalmente. É o que nos fez seguir esta campanha como analistas de percepções e de gaffes, obcecados com a eficácia, como se fôssemos o júri de um reality show de marketing político.

De certa forma, o problema nunca foi Sócrates, mas saber que Sócrates explorou as brechas da nossa democracia, que o napalm está aí para quem o souber usar. Deixa-nos num tal desalento ético, numa tal fractura, que a reconstrução será mais difícil. Mesmo sem Sócrates, porque os seus vestígios não irão desaparecer tão cedo.

31 maio, 2011

A nódoa


José Vítor Malheiros, Público

Os socialistas do PS só vão aparecer quando tiverem a certeza de que Sócrates já não respira


1. Espero que Mário Soares tenha oportunidade de participar noutra campanha eleitoral, noutro ciclo de vida do seu partido. Isto porque deixar como testamento político um apelo ao voto em José Sócrates seria um final particularmente triste para um homem com a sua carreira e com a sua visão política. Seria a prova que na política a má moeda expulsa sempre a boa moeda, em Portugal ou na Europa, como os tempos parecem insistir em nos provar.

É verdade que aquilo que Soares encontrou para dizer de positivo a propósito de Sócrates foi prudentemente escasso ("ganhou uma experiência excepcional, tem amigos na Europa e conhece toda a gente") e que a sustentação do seu apelo ao voto no PS foi "apenas" a sua fidelidade "ao Partido Socialista que ajudou a criar", mas a intervenção do líder histórico do PS no Palácio de Cristal serviu para mostrar de que forma todo o partido - com raríssimas excepções - está refém de Sócrates. Será porque acham que Sócrates é de facto o melhor líder possível para o Governo de Portugal? Porque acreditam de facto que Sócrates defenderá o Estado social? Porque acreditam que Sócrates tem uma visão (seja qual for) para o país capaz de o tirar do atoleiro? Porque acham que o prestígio internacional de Sócrates lhe permitirá renegociar os empréstimos em melhores condições? Porque acreditam na sua competência técnica? Na sua honestidade? Não. As razões são outras. Antes de mais, porque acham que Sócrates é o único líder socialista que pode ganhar estas eleições e o que o PS quer neste momento é ganhar as eleições (aconteça o que acontecer ao país). Depois, porque receiam o conhecido carácter vingativo do chefe... que ainda tem os cordelinhos do partido na mão. Só depois de Sócrates cair aparecerão os seus oposicionistas. Aparecerão em bando, quando tiverem a certeza de que já não respira. As razões do apoio dos socialistas do PS a Sócrates são, assim, as piores possíveis: ou o medo ou o sectarismo partidário. E a razão invocada no apelo ao voto é a única possível: o PSD é ainda pior do que nós.

2. Não percebo o que pode levar um dirigente socialista a defender o seu apoio a José Sócrates com base no argumento de que ele "é o líder do meu partido". Não perceberão estas pessoas, de quem se esperaria alguma cultura política, que esse argumento, que os estalinistas utilizaram de forma extensiva durante décadas, se encontra na raiz dos maiores crimes políticos jamais perpetrados? Não perceberão que esse argumento, sectário por excelência, não é um argumento? Não percebem que esse falso argumento justificaria todos os crimes? Que ele é amoral? Até que ponto irão continuar a apoiar Sócrates? Vão continuar a apoiá-lo faça o que fizer? Se um dia, em vez de disparar grosserias no Parlamento, como se acostumou a fazer, pegar numa caçadeira e começar a disparar umas cartuchadas a eito no meio da multidão dirão que quem o criticar está apenas a servir os interesses do PSD, a atacar o Estado social?

Achará o PS que os benefícios da acção governativa do PS (também os houve) compensam e devem fazer esquecer as aldrabices, as manipulações, as negociatas? Quererá o PS adoptar oficialmente a atitude dos autarcas corruptos que "roubam mas fazem"? Serão os ajustes directos aos amigos, as PPP sem controlo e a sonegação de informação uma espécie de "imposto revolucionário" que o povo deve pagar directamente para o bolso de alguns beneficiários em contrapartida de ainda termos o Serviço Nacional de Saúde? Acha o PS que as benesses que concede ao país devem ter como paga a sua absoluta impunidade? Defenderá o PS a monarquia absoluta?

Não sei se o PS percebe a nódoa que o consulado socratista constitui para si, a desvergonha que representa e que transformou em bandeira, o descrédito que trouxe para a política e aos políticos, o autêntico escarro que significa na cara do eleitorado em geral e dos socialistas em particular. Parece que não.

26 maio, 2011

Luta de classes

Pedro Lomba. Público

Há tanto contra José Sócrates e o seu Governo, contra os abusos e ocultações, a sua má gestão dos dinheiros públicos, a sua reincidência na mentira, que o mais difícil é escolher. Ontem foi o "défice oculto": 200 milhões de despesa fora da execução orçamental para iludir as contas; hoje é a confirmação de que o Ministério das Finanças recorreu mesmo ao Fundo da Segurança Social para vender dívida em Abril passado, apesar de o despacho do ministro que autorizou o negócio só ter sido publicado esta segunda-feira e apesar do desmentido oficial que foi feito na altura.

Eles continuarão a dizer que o país apanhou com a pior crise internacional dos últimos 80 anos, mas não explicam por que é que, se a crise chegou a todos, só nós e a Grécia é que estamos em recessão. Não se pode dizer que o caso contra este Governo não esteja bem provido de factos.

Mas nesta campanha Sócrates tem repetido desde o início, por sistema, por necessidade táctica, outro argumento: o "PS é o grande partido do povo". Tem dito e redito que os outros querem uma "educação para ricos e outra para pobres", "transportes para ricos e transportes para pobres"; tem insistido que os outros querem atirar os mais pobres para fora da saúde pública. Num comício em Elvas, Sócrates acusou Passos Coelho de usar um "preconceito de classe social" contra as Novas Oportunidades.

E, história amplamente comentada, para mostrar que os mais pobres estão mesmo atados à campanha socialista não hesitou em usar trabalhadores imigrantes indianos e paquistaneses, que mal falam português e nem sabiam quem ele era, como adereços de campanha a troco de lanches e dos papéis.

Agora já não é a modernidade das renováveis e do carro eléctrico, ou a plasticina da imagem e das estatísticas, agora Sócrates resolveu aparecer como um político socialista tradicional, defensor dos mais pobres e desvalidos, bramindo o estandarte da luta de classes. Depois do Sócrates sofisticado que jurava gerir o país como um empresário, negociando nas altas esferas, chegou-nos o Sócrates classista, o homem do povo, o homem dos simples.

Conheço muitos socialistas para quem esse "povo", real ou mitificado, não é uma simples fantasia nem uma arma política. Tal como não é a redução das desigualdades nem o Estado social. São pessoas, lá está, com convicções, um bem raro nos tempos que correm.

Mas ouvir Sócrates e o seu PS saltearem o medo dos pobres de sempre e dos novos pobres, ouvi-los falar em "povo" e em "classes sociais", é mais do que simplesmente trágico. É obsceno.

E nem sequer estou a falar do fim dos abonos de família, bolsas e prestações sociais. Seria demasiado óbvio. O que é preciso dizer é outra coisa de mais profundo. Sócrates e o seu PS de betinhos e instalados cavaram uma tal cratera de interesses, um tal vaivém promíscuo entre o Estado e certos grupos económicos, que de "povo", de atenção às desigualdades e até de esquerda ou de direita estes puros não têm nada.

Quando os vejo encher a boca com o "povo" e os "pobres, só me lembro dos amigos socialistas que literalmente enriqueceram nestes últimos 15 anos sob o alto patrocínio do poder do Estado. Lembro-me dos Ruis Pedros, Varas, administradores de empresas públicas, banqueiros, construtoras civis. Lembro-me de negociatas como o terminal dos contentores de Alcântara, das adjudicações directas, das Scut, das leis cozinhadas em gabinetes para servirem uns quantos destinatários. Nos anos finais do cavaquismo também havia disso. Esta esquerda dos interesses é igualzinha à direita dos interesses. Suga o país, o Estado, os que trabalham. E Sócrates assistiu a tudo, permitiu tudo, porque é feito dessa mesma massa. Luta de classes? Tenham vergonha.


03 maio, 2011

Ainda há coisas que se podem fazer


José Vítor Malheiros, Público

A ideia populista de que os ricos devem ser penalizados pelo uso do SNS é o primeiro passo para a sua destruição.

Não vivemos um normal tempo de crise, onde sabemos que a normalidade irá acabar por regressar, como o bom tempo depois de uma tempestade. Esta não é uma crise de onde sabemos que sairemos mais fortes, porque teremos sobrevivido e porque teremos aprendido a não repetir os últimos erros. Esta é uma crise onde não só não sabemos para onde vamos, como também não sabemos para onde poderíamos ir. Esta é uma crise da qual ninguém sabe como sairemos, nem sequer se sairemos dela. Esta não é a crise que se vai transformar na finest hour da União Europeia, como desejávamos, mas aquela onde os agiotas reunidos em Londres e em Frankfurt tentam proceder à última fase da lobotomia da civilização, apagando o Estado Social dos programas eleitorais de todos os partidos. Uma questão de realismo, dizem. "Vocês não têm dinheiro para isso", sussuram-nos ao ouvido. "Nós faremos um melhor serviço a gerir os vossos hospitais, as vossas reformas, os vossos exércitos, as vossas prisões, os vossos partidos".

Esta crise não é uma batalha perdida, mas uma guerra perdida, onde a única possibilidade é reagrupar as forças no exílio, organizar a resistência clandestina e prepararmo-nos para um longo combate.

Esta crise é o tempo de todos os charlatães e de todas as mentiras, porque haverá sempre algo mais a extorquir dos contribuintes. Que se deixarão expoliar voluntariamente. Porque alguém lhes disse que isso era inevitável. Porque alguém lhes disse que a política era um luxo impossível, que só a economia deve tomar decisões sobre as nossas vidas, que só a desumanidade garante a eficiência e que a desigualdade é a única justiça e a igualdade uma injustiça. Orwell ficaria boquiaberto com a sua presciência.

Mas neste momento em que não sabemos o que pensar, o que propor, há ainda coisas fundamentais que podemos fazer. Como defender o Serviço Nacional de Saúde com unhas e dentes, por exemplo, sem aceitar os argumentos das empresas (e dos seus partidos), que acham que este é um negócio tão ruinoso para o Estado... que preferem ser elas a fornecê-lo.

Numa entrevista recente ao PÚBLICO, o líder social-democrata Miguel Relvas defendeu que "a filha do homem mais rico de Portugal não pode pagar nove euros por uma consulta num hospital público, pagando o mesmo que a filha de um desempregado". "Não é justo", dizia.

Vale a pena reflectir na proposta.

Antes de mais, o sistema é justo porque a família mais rica de Portugal já paga muito mais do que a família do desempregado para o SNS: paga através dos seus impostos (ou pagaria, se todos os partidos quisessem). Por outro lado, se uma taxa moderadora progressiva desincentivar os mais ricos a aceder ao SNS e a escolher serviços privados, o SNS transformar-se-á no "serviço dos pobres", abrindo a porta a todos os ataques à sua manutenção e melhoria (menos utilizadores, menor pressão social para a sua melhoria, utilizadores mais facilmente silenciados, etc.). De facto, se se pretende um serviço de saúde de qualidade, é fundamental que ele sirva todos em condições de igualdade, ricos e pobres, sem distinção. Só desta forma toda a sociedade se empenhará, colectivamente, na sua defesa.

A ideia populista (aparentemente socialista, mas de facto profundamente reaccionária) de que os ricos devem ser penalizados pelo seu uso dos serviços públicos é o primeiro passo para a destruição desses serviços públicos e para reforçar uma saúde (uma educação, uma...) a duas velocidades: uma privada, de qualidade; uma pública, de subsistência. Os ricos devem ser tratados exactamente como os pobres - nem pior nem melhor - e só assim a defesa do serviço público será uma preocupação de todos. Ao contrário do que pretendem alguns, só a igualdade no acesso promove a qualidade.

28 abril, 2011

Sócrates denunciado por eventual administração danosa por dar tolerância de ponto


O advogado Alfredo Castanheira Neves apresentou na terça-feira ao Ministério Público uma denúncia visando o primeiro-ministro, por eventual administração danosa, resultante da tolerância de ponto concedida à função pública na tarde de quinta-feira santa.


16 abril, 2011

Os Lusíadas em nova versão


I

As sarnas de barões todos inchados
Eleitos pela plebe lusitana
Que agora se encontram instalados
Fazendo aquilo que lhes dá na real gana
Nos seus poleiros bem engalanados,
Mais do que permite a decência humana,
Olvidam-se de quanto proclamaram
Em campanhas com que nos enganaram!

II

E também as jogadas habilidosas
Daqueles tais que foram dilatando
Contas bancárias ignominiosas,
Do Minho ao Algarve tudo devastando,
Guardam para si as coisas valiosas.
Desprezam quem de fome vai chorando!
Gritando levarei, se tiver arte,
Esta falta de vergonha a toda a parte!

III

Falem da crise grega todo o ano!
E das aflições que à Europa deram;
Calem-se aqueles que por engano
Votaram no refugo que elegeram!
Que a mim mete-me nojo o peito ufano
De crápulas que só enriqueceram
Com a prática de trafulhice tanta
Que'ainda andarem à solta, só me espanta.

IV

E vós, ninfas do Coura onde eu nado
Por quem sempre senti carinho ardente
Não me deixeis agora abandonado
E concedei engenho à minha mente,
De modo a que possa, convosco ao lado,
Desmascarar de forma eloquente
Aqueles que já têm no seu gene
A besta horrível do poder perene!

12 abril, 2011

Puseram alguma coisa na água?


José Vítor Malheiros, Público

O PS é uma família e não renega os seus filhos. Mesmo que Sócrates destrua o país, o partido vai continuar a gostar dele.

Apesar da imensa cobertura mediática do congresso do PS deste fim-de-semana, os media não contaram a história essencial. Refiro-me à mudança de nome do PS, que abandona a designação de Partido Socialista e passa agora a adoptar oficialmente a designação pela qual já era informalmente conhecido: Partido de Sócrates. A alteração tem o inconveniente de manter a mesma sigla, mas a designação alternativa Partido do Zé, defendida com o habitual brilho intelectual por António Vitorino, não colheu o apoio dos congressistas. O que importa é que, depois deste congresso, ficou mais clara a identidade do PS e mais bem definida a sua visão para o país.

O congresso teve momentos muito diversos e oscilou entre o ambiente de seita acossada cerrando fileiras ("Eles estão todos contra nós, mas "há-des" ver") e um tom bajulatório de exaltação caudilhista com longa tradição política. E houve um perfume retro muito bem conseguido pela produção. Só se lamenta que o Don"t cry for me Portugal que tinha sido especialmente gravado por Madonna não tenha chegado a ser exibido.

Sintomática do ambiente foi a intervenção de Jaime Gama, que, apesar de, na substância, ter posto os pontos nos ii quanto às responsabilidades do Governo e do primeiro-ministro na negociação do empréstimo à UE e FMI (Gama tem alguma sensatez), seguiu na forma o mesmo tom laudatório do líder ("os ombros de José Sócrates" devem aceitar mais esta "dificuldade", disse Gama). Podia ver-se a cruz a ser arrastada pela Via-Sacra.

Já sabíamos que no PS de Sócrates as críticas e as dissidências eram malquistas e se pagavam caro. Agora sabemos que o unanimismo foi assumido pelo partido como um valor nuclear. A justificação é o acosso da esquerda e da direita, mas os estalinistas também não tinham falta de argumentos para defender o encobrimento e a participação nos crimes do regime. Não há muitas ideias políticas mais suspeitas do que este "sigamos com uma obediência cega e num silêncio servil o nosso líder autocrático porque estamos cercados", mas foi esse o moto que o PS decidiu escolher. Tal como preferiu o deleite autocomplacente (Ana Gomes foi uma das raras excepções) ao mínimo olhar crítico sobre a realidade.

É verdade que houve intervenções que abordaram a crise política, financeira e social portuguesa, tendo apresentado aos congressistas presentes um leque de propostas estratégicas para enfrentar os problemas da nação. Só que o leque foi desde um "Zé, pá... eles querem porrada mas eles mal sabem como nós somos danados para a porrada... e então tu, caraças, pá, Zé!" até "Tu, Zé, nem sabes o orgulho que eu, caraças, tenho de estar ao teu lado, pá". Sócrates, como não podia deixar de ser, emocionou-se.

Pode dizer-se que tudo isto é compreensível. Que isto mais não é que lealdade, camaradagem, amizade, valores importantes (uma das músicas de fundo do vídeo exibido foi That"s what friends are for), mas o que o PS parece não perceber é que há valores que um partido tem de prezar mais que esses, como a honestidade, a justiça ou o bem-estar dos portugueses. Que os amigos de Sócrates lhe dêem palmadas nas costas é normal. Que o partido o reeleja para o colocar de novo à frente do Governo é irresponsável. E que o PS se compraza em ser o partido dos amigos é preocupante. Não é que os outros não sejam, mas têm um bocadito de vergonha. Ninguém pensou que seria melhor o PS apresentar-se como o partido das ideias para Portugal do que como o partido da lealdade ao chefe?

Uma das explicações para este congresso alegremente mentecapto e de glorificação do líder é, simplesmente, que alguém tenha posto alguma coisa na água. Outra explicação possível é que o PS seja só isto.

Homens da luta na moção de recandidatura de José Sócrates




10 abril, 2011

A sala de aula está fechada


Daniel Sampaio, Pública 10/4/2011


"Em Portugal, a sala de aula está fechada", aqui está uma importante constatação de Andreas Schleicher, coordenador do Programme for International Assessment (PISA), o maior estudo internacional sobre as competências dos alunos de 15 anos. Os dados de 2010 revelaram, como foi noticiado, algumas melhorias nos estudantes portugueses.

Na entrevista a um semanário, Schleicher considera importante continuar o progresso e salienta como é decisivo "investir em recursos capazes de ajudar os alunos com dificuldades (...), porque se pode ter sucesso com todas as crianças". Como estratégia possível, coloca a hipótese da retirada momentânea do aluno da sala de aula, com posterior reintegração após melhoria. Sobre a avaliação, Schleicher alerta para o facto de surgir associada à progressão da carreira, em vez de se ligar ao desenvolvimento profissional, ou seja, aos pontos fortes e fracos dos professores, no seu desempenho em diversos contextos. E conclui com a afirmação de que não sabemos se um professor está a fazer um excelente ou péssimo trabalho, porque "a sala de aula está fechada".

Esta entrevista deveria ser afixada nas escolas e merecer toda a atenção dos responsáveis educativos. Infelizmente, nada disso se passa. O mistério da sala de aula é uma realidade: mesmo em escolas bem organizadas, os factores individuais de alunos e professores podem impedir o normal funcionamento da classe, como acontece em casos de falta de autoridade dos docentes e de indisciplina dos jovens. Os alunos com problemas de aprendizagem são enviados para aulas de apoio sem uma verificação criteriosa das suas insuficiências. Nunca são estudados os factores de grupo que podem estar a impedir o progresso, nem são analisadas as dificuldades dos professores em transformar a sala de aula num grupo de trabalho cooperativo: os docentes descrevem as turmas como "boas" ou "más", esquecendo a heterogeneidade do conjunto e as diversas etapas de desenvolvimento em que se encontram os alunos. A indisciplina é, em muitos casos, impressionante: contou-me uma professora que só conseguia "sumariar" - estranho verbo para quem ensinava Português - porque as aulas eram passadas a mandar sentar os alunos e a gritar para que estivessem calados. Outra colega tinha abandonado a sala de aula porque os alunos, "transformados" em gatos, "miavam" a compasso, enquanto dois deles gritavam que o director de turma era um "ganda boi". E a escola prosseguia o seu quotidiano, sem que alguém se preocupasse com a sala de aula, que permanecia "fechada".

Tudo isto se passa num país em crise, em vésperas de eleições. Num território em que um partido procura culpar o outro e o Presidente da República não foi, até agora, capaz de assegurar um acordo pré-eleitoral para um governo estável. A Assembleia da República, depois de impedir a diminuição do número de disciplinas - uma medida saudável, embora mal justificada -, tomou a decisão de parar o sistema de avaliação dos professores, obtido por acordo com os sindicatos e em vigor neste ano lectivo. O bom senso aconselharia uma revisão cuidada do que se obteve e do que não se conseguiu, de modo a que o novo governo e no próximo ano lectivo fizesse as alterações necessárias ao sistema em vigor. Prevaleceu a pressa e o espectáculo político: a verdade é que alguns partidos ganharam e a escola perdeu tempo.

A sala de aula ficará aberta quando for avaliada por alguém exterior à escola. A escola problemática melhorará quando abrir as portas ao trabalho na comunidade e for dirigida por um director competente: alguém cujo curriculum ateste capacidade de melhorar os resultados e conseguir satisfação de docentes e discentes noutro estabelecimento de ensino definido como difícil.


Neste link há um texto de uma conferência que Schleicher deu no Conselho Nacional de Educação:

http://www.cnedu.pt/images/andreas.pdf



09 abril, 2011

Jardim, a grande fraude


A Editorial Caminho foi forçada a adiar a apresentação no Funchal do livro "Jardim, A Grande Fraude - uma radiografia da Madeira".

Porque será?

Tudo inocentes?

Vasco Pulido Valente, Público

Sócrates começou por jurar que não governaria Portugal com o FMI: porque "a agenda" do FMI implicaria uma "factura" pesada durante anos. Depois perguntou histericamente aos portugueses se queriam um governo com FMI ou sem FMI. E, uma vez posto em minoria na Assembleia, declarou que não tinha os poderes para negociar com o FMI, para anteontem com um prelúdio muito comovedor sobre "patriotismo", a cargo de Francisco Assis, pedir ajuda ao sobredito FMI. Mas não nos deu a confiança de esclarecer que espécie de "ajuda": se uma ajuda "intercalar" (que aparentemente não existe), se uma ajuda "mínima" (como quer Passos Coelho), ou se um "resgate" por inteiro, com as consequências do costume. O retrato do primeiro-ministro está todo neste deprimente espectáculo.

Só que o mais deprimente destes meses de Março e Abril não foi, como devia ser, o eng. Sócrates - foi a irrupção de génios pela televisão e pela imprensa que já sabiam a história inteira e se preparam agora para explicar por que razão o FMI era preciso (e, para a maior parte, ele era preciso há muito tempo) e o que pouco a pouco nos trouxera a este trágico sarilho. Com o seu arzinho presunçoso e professoral, economistas, financeiros, banqueiros, filósofos e arraia-miúda vieram revelar ao indígena atónito que nada, ou quase nada, se fizera de lógico e sensato de 1990-95 para cá. Não vale a pena repetir a ladainha. Ninguém duvida que o nosso enormíssimo buraco não se cavou num dia. Infelizmente, esta constatação pede uma pergunta óbvia: em que se ocupavam os sábios que hoje com tanto gosto nos predicam, enquanto os partidos (o PS e o PSD) arruinavam o país?

A ortodoxia em moda apela a que não se procurem "culpados". Mas, se, de facto, não se procurarem "culpados", para quem fica a culpa do tristíssimo fracasso do Portugal democrático? Para a má vontade de um Deus perverso? Para o destino? Ou para a insuficiência atávica do indígena? Era bom apurar isto, porque, se alguma destas três possibilidades (principalmente a última) ofende a delicadeza nacional, a única saída que nos resta é aceitar a ecuménica loucura dos portugueses. Quem se deixa chegar onde chegámos, levado por três dúzias de políticos, sempre reeleitos e até, às vezes, respeitados, não merece outro nome. E, pior ainda, quem desiste da verdade acaba inevitavelmente por desistir de si próprio.


Ministro sueco das Finanças: Governo português é responsável pela situação do país


O Governo português “tem uma grande responsabilidade” pela situação económica e financeira do país e colocou os parceiros europeus numa situação muito difícil por terem de decidir um programa de ajuda muito rapidamente e em condições tão complicadas, acusou o ministro sueco das Finanças, Anders Borg.

03 abril, 2011

Mais um velhaco


O administrador dos CTT Marcos Batista “não é licenciado, faltando várias cadeiras para terminar o curso”, confirmou o vice-presidente do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) com a tutela dos assuntos académicos. Silva Ribeiro disse ainda que “a pessoa em causa não chegou a concluir cadeiras que lhe dariam equivalência à licenciatura no formato pós-Bolonha”.
O ISEG está a ponderar entregar o caso ao Ministério Público, alegando falsas declarações prestadas pelo administrador dos CTT Marcos Batista. Ao contrário do que é afirmado pelo administrador da empresa pública, Batista não entrou em contacto com os serviços académicos da instituição de ensino para obter informações sobre a conclusão da licenciatura.


O administrador dos CTT Marcos Batista, ex-sócio do secretário de Estado Paulo Campos e por este nomeado, suspendeu ontem o mandato depois de ser questionado pelo jornal i sobre as suas qualificações académicas. Marcos Batista terá adulterado as habilitações académicas, afirmando ser licenciado pelo Instituto Superior de Economia e Gestão, como consta no despacho de nomeação publicado em Diário da República. O curso, porém, não foi concluído, apurou o jornal i junto dos serviços daquela instituição de ensino, não tendo Marcos Batista completado as cadeiras suficientes para concluir uma licenciatura pós-Bolonha.


Retrato de um chefe


Vasco Pulido Valente, Público


O dr. Passos Coelho resolveu pôr na rua o governo de Sócrates. Não sem provocação. Mas toda a gente esperava que ele tivesse alguma coisa dentro da cabeça e a comunicasse ao país. Não comunicou nada. O que ele fez foi começar uma sucessão de gafes que revelam uma inquietante tendência para aumentar em quantidade e qualidade. Começou por ir a Bruxelas declarar que, em caso de aperto, não hesitaria em subir o IVA. Esta inesperada franqueza provocou, como é óbvio, um grande embaraço ao PSD e o habitual chorrilho de trapalhadas (apoios, desmentidos, desculpas) que inevitavelmente deixaram o país mais perplexo do que estava. Aliviando a sua pessoa de meia dúzia de asneiras sobre o IVA e o IRS (de resto, desnecessárias), Passos Coelho não pareceu perturbado e passou a tarefas de outra natureza.

A primeira consistiu em entregar à FENPROF a avaliação dos professores que tinha levado uma eternidade a negociar e acabara numa meia derrota. Não sei quantos votos o PSD ganhou com esta espécie de exercício eleitoral, mas ganhasse os que ganhasse, a operação foi sórdida. Veio a seguir a sugestão para privatizar a CGD e a confissão (que ninguém lhe pedira) de que estava disposto a governar com o FMI. No meio disto, prometia também um programa para Abril, fabricado (ou dirigido) pelo dr. Catroga. E, para ir abrindo o apetite à populaça, aprovou por unanimidade no PSD um documento em que definia "pilares" ("pilares"?) num calão indigno do 12.º ano, que não houve português que percebesse ou levasse a sério. De qualquer maneira, a unanimidade agradou a Passos Coelho, que desde pequeno não gosta de conflitos.

Esta propensão para a concórdia universal é especialmente visível no partido, a quem ele jurou não aprovar uma aliança pré-eleitoral com o CDS. Para as luminárias lá de casa, esse acto de loucura custaria ao PSD, pelo menos, 21 deputados. Com essas preciosas criaturas talvez custe a maioria (absoluta) ao centro-direita e uma instabilidade permanente ao país. Não importa. Passos Coelho não quer zaragatas. Os jornais garantem que ele até nem tenciona excluir das listas nenhuma das facções que, depois de Marques Mendes, tornaram o PSD num objecto de irrisão e desprezo; e se prepara mesmo para convidar "independentes" (um género zoológico muito comum em épocas de eleições). Passos Coelho nunca diz "não". Consta mesmo que desistiu de exigir uma auditoria às contas públicas portuguesas, porque o Presidente da República e o Presidente da Comissão Europeia não achavam bem. Portugal que vote na ignorância do enorme sarilho em que o meteram. "Sim, dr. Cavaco!", "Sim, dr. Barroso!". Pedro Passos Coelho é um chefe.


31 março, 2011

António Barreto: Crise política é “golpe” de Sócrates para se vitimizar


O sociólogo António Barreto afirmou que a demissão do Governo foi um “golpe” do primeiro-ministro José Sócrates para provocar eleições, vitimizar-se e que isso aumenta as dificuldades para Portugal se financiar nos mercados.

29 março, 2011

O rei das cambalhotas





Cavaco Silva não vai intervir na avaliação dos professores


Cavaco Silva prepara-se para promulgar a proposta da oposição que revoga o modelo de avaliação dos professores. O Presidente da República não irá atender ao pedido do governo e não irá enviar para o Tribunal Constitucional o diploma de revogação do modelo aprovado a semana passada pela Assembleia da República. Belém considera que o argumentário do Partido Socialista sobre a inconstitucionalidade da proposta da oposição não é juridicamente correcto.


Sem cabeça e sem coração


José Vítor Malheiros, Público

Alguém imagina Sócrates convidado para dar aulas numa universidade prestigiada?


Quando o PS decide escolher de novo José Sócrates para o cargo de secretário-geral por uma esmagadora maioria de 93 por cento - seria injusto chamar-lhe "venezuelana", porque Hugo Chávez fica-se por uns míseros 60 por cento - está a dizer-nos que não tem mais nenhuma ideia para propor aos portugueses que não sejam as que nos apresentou nos últimos seis anos e que não tem um desejo de nada diferente. E um partido sem ideias e sem desejo, sem cabeça e sem coração, está, se não morto, pelo menos em coma.

Percebe-se que Sócrates se recandidate ao cargo. O actual primeiro-ministro é um homem ambicioso, que não pode razoavelmente esperar fazer carreira em qualquer outro domínio que não seja o da política e esta é a última das últimas oportunidades para se manter no poder. Alguém imagina Sócrates convidado para dar aulas numa universidade prestigiada? A fazer o circuito internacional das conferências? A dirigir uma organização intergovernamental? Partilhando a sua visão na administração de uma fundação? Lançando-se numa carreira de ensaísta? Escritor? Não importa se as probabilidades de Sócrates vencer as próximas eleições são baixas ou altas: esta é a sua última oportunidade. E Sócrates, se tem a combatividade de um samurai, não tem a abnegação correspondente. É fácil imaginá-lo aos berros mas não a beber a cicuta e ainda menos a sair de cena sem espernear. Sócrates irá tentar a sua última oportunidade. Quem sabe? O PS é um dos partidos do "arco do poder" (o mal, tem eixo; o poder, arco) e a sua clientela, alargada pelos últimos anos de consulado e bem estimulada nestas últimas semanas de poder, pode ainda... Quem sabe?

Uma questão que é necessário colocar a um PS que não se cansa de acusar o PSD de colocar os interesses do partido à frente do país, é esta: 93,3 por cento do PS pensa realmente que Sócrates é a melhor solução para governar Portugal? Se é assim, é de esperar que, ganhe ou perca as eleições daqui a dois meses, o PS se mantenha sob a liderança do actual secretário-geral. Mas, se a perda de eleições motivar a queda de Sócrates, isso quererá dizer que, como todos suspeitamos, o PS apenas escolheu o líder que possuía a maior desfaçatez, na esperança de realizar uma campanha vitoriosa. Afinal, o homem já ganhou duas eleições... Quem sabe?

É claro que, apesar da esperança infundada dos socratistas, toda a gente sabe que Sócrates vai bater no fundo, com estrondo. Nessa altura, o PS vai experimentar um sobressalto cívico, talvez até republicano (não me atrevo a dizer socialista) e, das reservas das coortes do PS vai sair um candidato, talvez um candidato e meio (nunca dois, nunca dois... em Portugal não há tradição, estas coisas combinam-se, não é preciso discutirmos em público, como vendedeiras) que se disporá a assumir a liderança do PS durante a oposição, que em Portugal dá pelo nome de travessia do deserto devido à escassez de víveres que acompanha o estatuto.

Mas antes disso, naquele período de agitação que precede a indigitação do candidato a líder de um partido e que obedece a regras semelhantes às da procura da reencarnação do Dalai Lama, vamos ouvir nomes ("Nem sabia que ele era do PS..."), relembrar percursos ("Ah... foi ela que fez isso?"), comparar currículos ("Estudou mesmo numa universidade a sério?"), sondar reputações ("Dizem que até é honesto!"), avaliar atitudes ("Demitiu-se!?") e, em plena fase de candidaturas das pré-candidaturas, vamos descobrir que, numa gruta sob o Largo do Rato, existem homens e mulheres capazes de liderar o partido e de dirigir um Governo, competentes, dinâmicos e com visão, honrados e respeitados, com consciência social e capazes de dizer sustentabilidade sem gaguejar.

O que é pena é que tenham passado todos estes anos a jogar às cartas.

28 março, 2011

iPad2


Eu tinha vaticinado, já há muito, que o iPad tinha vindo para ficar e para revolucionar. Houve outros que na altura disseram que não. Pois atente-se na imagem para se perceber como é que foi a euforia no lançamento do iPad2 em Nova Iorque, no dia 25 de Março.
A Apple está em dificuldades para responder à procura do novo modelo do iPad. Em Portugal, muitas lojas viram esgotar o iPad 2 logo no primeiro dia. Em menos de três dias, os portugueses compraram todos os iPads 2 que vieram para o mercado nacional.







Alemães deram abanão eleitoral a Merkel


O partido de Angela Merkel sofreu mesmo a bofetada eleitoral que temia: a perda do estado federado de Baden-Württemberg, que a CDU governava há 58 anos. Foi o culminar de uma série de gaffes e posições do Governo difíceis de explicar aos cidadãos, como a abstenção da Alemanha na ONU sobre a Líbia e a decisão de Merkel de suspender a actividade de sete centrais nucleares - algo que o próprio Helmut Kohl veio classificar como "uma demasiado apressada e solitária saída alemã da energia nuclear".


Tsunami





27 março, 2011

Vara recebeu mais do que o presidente do BCP em 2010


Armando Vara, ex-administrador do Millennium BCP, recebeu 822 mil euros em 2010, apesar de ter estado no banco apenas até Julho, avançou a SIC. Vara recebeu mais dinheiro do que o próprio presidente do BCP, Carlos Santos Ferreira.

24 março, 2011

Post-it ao cuidado do futuro primeiro-ministro

Helena Matos, Público

1ºNinguém o obrigou a ser primeiro-ministro. Quis ser primeiro-ministro. Logo, não se queixe.

2º Não se esqueça que é muito mais simples para si deixar de ser primeiro-ministro do que para o país ver-se livre de um primeiro-ministro.

3º Não confunda liderança com usurpação de competências. As pessoas que aceitam fazer parte do seu governo não são o prolongamento do seu ego e em muitas matérias, para não dizer em todas, têm mais saber do que o primeiro-ministro. Futebolisticamente falando um primeiro-ministro é como um treinador: um bom treinador é aquele que transforma um conjunto aleatório de jogadores numa equipa.

4º Não se esqueça que quanto mais obcecado viver com o que se diz de si mais dependente vai ficar de jornalistas e comentadores. E um primeiro-ministro dependente de jornalistas e comentadores é um primeiro-ministro que não só não governa como vive sob a suspeição e a tentação de controlar o que se diz dele.

5º É aos portugueses e não aos jornalistas que deve prestar esclarecimentos.

6º Por mais que lhe custe acreditar e por mais injusto que lhe possa parecer foi escolhido para governar e não para dizer mal da oposição.

7º Ser primeiro-ministro é uma circunstância transitória para si mas o que é transitório para si pode tornar irremediável muita coisa na vida dos portugueses. Não complique vidas que já não são fáceis.

8º Por princípio, duvide.

9º Também por princípio ouça muito.

10º Quando já tiver ouvido o que houver para ouvir e tiver duvidado o suficiente de tudo o que ouviu, ou seja quando estiver certo do que vai decidir, decida. E não se esqueça que não existem decisões consensuais. Existem sim boas decisões e más decisões. Decisões fundamentadas e decisões demagógicas. Se tiver razão, o tempo será seu aliado.

11º Antes de assinar o que quer que seja informe-se, estude e pense.

12º Nunca culpe os outros pelos seus erros e falhas.

13º Se o seu sonho é ser aclamado por todos e não ser criticado por ninguém demita-se enquanto é tempo.

14º Não se desculpe com as crises. Ser político é precisamente isso: gerir o inesperado mantendo um mínimo de princípios e assegurando os rituais institucionais que nos separam da choldra. Se os políticos não souberem fazer isto, um director-geral não só bastava como fazia melhor trabalho.

15º Não se esqueça que são os portugueses quem lhe paga o ordenado, o motorista, os telemóveis de serviço, a segurança e todas as restantes coisas. São também os portugueses quem paga ao seu governo e são ainda os portugueses quem sustenta os programas, projectos, obras, reformas e tudo o mais que o seu governo vai aprovar.

16º Não se esqueça que tudo aquilo que lhe pedem que dê, licencie, autorize, aprove, não é seu. É do povo. Ou para ser pago por ele.

17º Nunca, mas nunca, diga que a situação é melhor do que aquilo que realmente é.

18º Não tenha a presunção de que vai fazer tudo bem. Mas recordo que há duas coisas que não pode fazer: uma delas é comprometer a democracia. A outra é tornar-se um problema para o país. A partir daí não há retorno. A sua queda será a única saída possível.

19º Respeite as instituições. Cumpra os rituais da democracia. Dê às palavras o seu valor. São o formalismo e o rigor que asseguram o mínimo de dignidade e auto-estima aos países, sobretudo se estes forem pequenos e pobres.

20º Não confunda o povo com o eleitorado nem o seu partido com o país e muito menos a sua pessoa com Portugal.

21º Não brinque aos legisladores. A lei dever servir as pessoas e não servir-se delas.

22º Nunca esqueça que um dia vai deixar de ser primeiro-ministro e pense sempre que esse dia vai chegar mais cedo do que imagina.

A retórica dos fugitivos

Pedro Lomba, Público

A última sessão do Parlamento no fim da I República acabou sem quórum. Tal era o descrédito da casa que os deputados resolveram não comparecer. A última sessão do Parlamento ontem, no fim de Sócrates ou no princípio do fim de Sócrates, acabou quase sem Governo. As sumidades da governação eclipsaram-se. Sócrates saiu de cena logo que Teixeira dos Santos acabou de falar. E Teixeira dos Santos nem se dignou ouvir Manuela Ferreira Leite. Ambos assumiram o registo de provocação constitucional em que têm vivido há muito tempo e que usaram para esconder o PEC IV da Assembleia, do Presidente, dos parceiros sociais, de toda a opinião pública. Foi de propósito. Ambos desejaram ter este fim.

Participar no debate com os deputados sobre o novo PEC era uma responsabilidade elementar do primeiro-ministro. O seu poder deriva do Parlamento. O seu dever é ouvir; e ouvir críticas, censuras, condenações, é também uma forma de ser responsabilizado. Mas como esperar responsabilidade de um governo e de um primeiro-ministro que aproveitaram a oportunidade do PEC IV para precisamente falsificarem e manipularem a responsabilidade pelo fracasso da sua governação?

Convém estarmos atentos ao que se está a passar. Muita manipulação e desinformação se prepara. Sócrates, como de costume, está a tentar o seu próprio branqueamento por ter conduzido o país para a bancarrota. Tornou-se um fugitivo que procura escapar pela única frincha que as circunstâncias permitem, atirando o ónus do que aí vem, da crise, da intervenção externa - como se o país não estivesse há muito tempo em crise - para os seus sucessores. O seu pedido de demissão é uma fuga, um artifício para torpedear a possibilidade de os portugueses o responsabilizarem.

É disto que se trata. Mas quem é que deverá ser responsabilizado por este momento crítico senão Sócrates? Quem é que nos governou nos últimos seis anos? Quem é que escondeu a situação real das contas públicas, quem contra todos os avisos e ameaças persistiu cegamente no erro e na mentira? E não foi Sócrates que apresentou PEC sucessivos com a colaboração do principal partido da oposição, ao mesmo tempo que não os cumpria? Não foi Sócrates que, dizendo agora "ou nós ou o FMI", finge que Portugal já tem recorrido à ajuda externa do Banco Central Europeu? Não foi Sócrates que atiçou a desconfiança dos mercados, expropriando Portugal da sua liberdade e independência?

Tem sido esta a admirável estabilidade de Sócrates. E é desta mesma estabilidade que ele agora se proclama curador. Entre uma estabilidade destrutiva e uma clarificação urgente, há alguém que não prefire a clarificação?

Era assim que tudo fatalmente acabaria. Com um primeiro-ministro acossado e em fuga, recorrendo a todos os truques para falsificar a sua responsabilidade, vitimizando-se e com um PS domesticado e desesperado por salvar o que resta.

Quem quiser perceber a manobra fugitiva de Sócrates que leia um texto do cientista político espanhol José Maria Maravall "Responsabilidade e manipulação" (está disponível na Internet). O caso estudado por Maravall é a conduta do PSOE espanhol nos anos 80. Para manipular o processo de responsabilização política pelos eleitores, os media foram apertados; escondeu-se informação relevante que permitisse acompanhar o Governo; falsearam-se os resultados das políticas governamentais; o partido começou a viver com férrea disciplina e centralismo para aparecer artificialmente unido na crise, culpou-se a oposição pelo que fez e não fez; o Governo apresentou as suas políticas como necessárias e inevitáveis.

Sócrates abraçou em absoluto esta retórica da manipulação da responsabilidade. É a sua única saída. A responsabilidade não é dele, é de outros. A crise não é dele, é de outros. Muito haverá para dizer sobre este período deletério que Sócrates encarna na nossa política. Um dia perguntaremos como foi possível.

23 março, 2011

A meta do Ministério da Educação é reduzir de 1070 para 900 agrupamentos


A meta para cumprir até Setembro é ambiciosa. O Ministério da Educação já comunicou aos directores que pretende reduzir os cerca de 1070 agrupamentos escolares que estão a funcionar para cerca de 900 no próximo ano lectivo. Isto significa que após terminar a segunda fase do processo, que arrancou este ano lectivo, a rede escolar pública no território continental terá menos 170 agrupamentos. Saber quais são as escolas que podem vir a ser fundidas com outros estabelecimentos de ensino ou agrupamentos é por enquanto uma informação que não chegou a boa parte dos autarcas ou dos directores escolares. O processo, aliás, começou a ganhar forma em finais do ano passado, mas nas últimas semanas desacelerou e agora parece estar em banho-maria à espera que a tempestade política amaine.


16 março, 2011

Crise?


No ano passado foram vendidos em Portugal 6,1 milhões de telemóveis , revelou a IDC, o que traduz um crescimento de nove por cento face ao ano anterior.


Internet bate pela primeira vez a audiência de jornais e televisão


O jornalismo norte-americano teve como meio mais relevante, em 2010, a Internet. Os jornais e a televisão ficaram para trás, pela primeira vez, nos EUA: é online que a maioria dos leitores tem agora a sua principal fonte de informação e foi também através da rede que se conseguiram, no último ano, mais receitas publicitárias.


Mais uma etapa


Concluiu-se hoje (mais) uma etapa, de um já longo percurso académico, com a entrega do projecto de tese de doutoramento, que tem como título "A utilização das TIC pelos professores: condicionalismo e potencialidades."
São 102 páginas que provam que o investimento não tem sido despiciendo.
A ver vamos...

15 março, 2011

A manifestação do nosso descontentamento

José Vítor Malheiros, Público

Aquilo que começou como um movimento de trabalhadores precários começa a parecer-se com um Tea Party.

As manifestações de sábado foram enormes. Muito maiores do que se esperava - atendendo à fragilidade dos meios dos organizadores e à indefinição dos seus objectivos. Mas mostraram o descontentamento das pessoas com a situação económica, com o desempenho do Governo, com os políticos em geral, com a precariedade do emprego, com a falta de perspectivas. O descontentamento das pessoas em geral e não apenas dos jovens. Se a manifestação mostrou que é possível pôr centenas de milhares na rua usando uma página da Facebook, também mostrou que o descontentamento excede a camada jovem com empregos precários e abrange toda a população. Os jovens não estão mais à rasca que os outros. O seu desespero pode ser mais chocante, mas de facto eles não estão mais à rasca que os dois milhões de pensionistas a quem o Governo acaba de congelar as pensões. Nem que os dez milhões que viram os seus impostos agravados, os seus salários encolhidos, os apoios sociais reduzidos, as isenções fiscais reduzidas. Nem que os inquilinos que vão ver as suas rendas aumentadas, que os desempregados que vão ver os seus subsídios encurtados, que os doentes que vão ter de pagar mais pelos medicamentos, que os deficientes que vão ver os seus apoios desaparecer, que os empregados que acabarão no desemprego.

A manifestação também mostrou que, se está toda a gente descontente, ninguém faz a mínima ideia do que fazer com esse descontentamento. Dispensar os políticos foi uma das ideias que pareceu ter mais adesão, mas ninguém tem grandes dúvidas de que a ideia é insuficiente como estratégia de organização social ou como segredo de geração de bem-estar. E, por muito que se grite contra a precariedade, todos sabem que ela não acaba por decreto. A pergunta que todos fizeram e ainda fazem - incluindo os organizadores da manifestação - foi o conhecido "O que farei com estes manifestantes?" que vem dar voz à mesma angústia com que Manuel Alegre primeiro e Fernando Nobre depois perguntaram "O que farei com estes votos?". Há uma resposta honesta: ninguém faz a mínima ideia. Por um lado, ninguém sabe se há algo de comum naquilo que toda esta gente quer. Depois, ninguém sabe se o que a maior parte desta gente quer é uma política possível ou apenas uma fantasia. Finalmente, ninguém sabe se o desagrado com a situação é um sentimento mobilizador ou um arrufo que se desvanecerá nas próximas eleições.

A criação de um fórum para recolher ideias "para produzir mudanças" parece uma boa ideia, mas é espantosa a ingenuidade de algumas das ideias (hortas comunitárias? PME?), ao mesmo tempo que outras tresandam a puro fascismo (fim dos políticos e dos partidos?) ou ao neoliberalismo que está na origem da hecatombe financeira actual (fim das empresas públicas? o Estado só serve para sugar os trabalhadores?). Para algo que se apresenta como uma consciência crítica, o movimento revela uma atitude singularmente acrítica em relação ao funcionamento do capital, dos mercados financeiros e das empresas em geral. E a defesa dos trabalhadores aparece mais associada a ataques aos políticos e ao Estado que a críticas aos patrões. Aquilo que começou como um movimento de reivindicação de trabalhadores precários começa a parecer-se com um reaccionário Tea Party.

Mas há outra coisa chocante: a escassez de ideias que por aí há a circular. O Fórum das Gerações convida todos a lançar ideias para a discussão, como se partisse do zero, e as ideias que estão a aparecer parecem de facto próximas do zero. Não haverá por aí partidos, sindicatos, clubes desportivos, universidades, think tanks, autarquias, investigadores, empresas, que tenham umas ideias na manga? Uma que seja? Ou a única solução será mesmo apostar nas hortas comunitárias?

Ministério pagou 72 mil euros a mulher de Alberto Martins contra parecer da PGR


O Ministério da Justiça decidiu pagar mais de 72 mil euros à procuradora-adjunta Maria da Conceição Correia Fernandes pelo facto de esta ter trabalhado em dois tribunais cíveis do Porto. A decisão nada teria de estranho se a magistrada não fosse mulher do ministro Alberto Martins e se a mesma não tivesse sido tomada contra os pareceres negativos do vice-procurador-geral da República e de outros membros do Ministério Público. Também o anterior secretário de Estado adjunto e da Justiça, Conde Rodrigues, tinha indeferido o pedido de pagamento de um suplemento remuneratório à magistrada por acumulação de funções.



14 março, 2011

Governo baixa IVA aplicado ao golfe para seis por cento


Os campos de golfe deverão voltar a ser tributados à taxa reduzida de IVA, de seis por cento, em vez dos 23 por cento que estavam a ser aplicados desde o início do ano, no quadro do Orçamento do Estado (OE) para 2011, revelou o Negócios.

12 março, 2011

Foi linda a festa, pá


Nas manifes que hoje, dia 12 de Março, se realizaram um pouco por todo o país, não há uma só geração, mas várias. A crise e o descontentamento tocam a todos.
Terá esta iniciativa pés para andar e ser muito mais do que isto?










Gerações


No dia em que a geração à rasca (a designação é mesmo rasca!) procurava mostrar o seu descontantamento, outras gerações dedicavam-se a trabalhos de outra natureza, cujo resultado as imagens documentam.






Os homens da luta




11 março, 2011

Google permite bloquear sites nos resultados das pesquisas

Junto de cada link nas páginas de resultados de uma busca, vai surgir a opção para evitar que, no futuro, as páginas desse site sejam apresentadas. O processo é reversível.
Para usar esta funcionalidade, é necessário ter uma conta do Google, uma vez que a lista de sites a bloquear fica associada à conta de cada utilizador.
Junto de cada link nas páginas de resultados de uma busca, vai surgir a opção para evitar que, no futuro, as páginas desse site sejam apresentadas. O processo é reversível.
Para usar esta funcionalidade, é necessário ter uma conta do Google, uma vez que a lista de sites a bloquear fica associada à conta de cada utilizador.



08 março, 2011

Que parvos que nós somos


José Vítor Malheiros, Público

Pela primeira vez desde a invenção do progresso, não há razões para acreditar que os nossos filhos vão viver melhor do que nós.

Nem sempre na história se teve a noção de que era possível fazer do futuro um sítio melhor para os nossos filhos viverem. E muito menos os homens imaginavam que esse fosse o seu principal dever cívico ou que essa melhoria pudesse abranger toda a sociedade. O futuro podia ser melhor porque era possível acumular poder e riquezas, experiência e saber, mas esses acidentes, se podiam acontecer, conjugavam-se sempre no singular e eram singulares eles próprios. O futuro foi, durante a maior parte da história, uma continuação do presente ou uma repetição cíclica do passado e, quando era sonhado, tomava geralmente a forma de uma revisitação de uma Idade de Ouro perdida e que talvez nunca fosse possível recuperar. Por poderoso que o mito prometeico tenha sido ao longo de séculos, o conceito de construção do futuro, de constante melhoria, a moderna ideia de progresso tem escassos trezentos anos, com proeminentes precursores a abrir o caminho a Voltaire, a Kant e a Marx.

Isto significa que, de há trezentos anos para cá, se tornou comum aspirar a que os nossos filhos tivessem uma vida melhor do que nós. E não apenas os nossos filhos, mas todos os filhos. Não era apenas possível aspirar a isso; era também razoável esperar que isso acontecesse. Essa parecia a evolução natural das coisas. Tudo permitia esperar que os filhos tivessem uma vida melhor do que os pais não só em termos materiais mas também em termos espirituais, com maior liberdade e mais acesso à cultura.

Hoje, vivemos um momento inédito na nossa civilização. Pela primeira vez desde que se inventou o progresso, não vemos razões para acreditar que os nossos filhos vão viver melhor do que nós ou num mundo melhor do que o nosso, com mais bem-estar, mais paz e mais liberdade. E os nossos filhos também não vêem.

Sabemos que esse mundo é possível, sabemos que há ferramentas que permitem construir esse mundo, descobrimos aqui e ali pequenos exemplos desse mundo, sabemos como se faz, conhecemos inúmeras armadilhas que podemos evitar, sabemos como a guerra é destruidora, sabemos como a liberdade é preciosa, ensinámos milhões a sonhar e a criar, produzimos suficientes alimentos para acabar com a fome e suficientes medicamentos para salvar as vidas de milhões. Sabemos como se produzem bens e como se inventa, temos muito boas ideias sobre a melhor forma de organizar uma empresa, uma aldeia ou uma escola, sabemos que a liberdade de expressão e de reunião não só fazem bem à alma como geram as melhores soluções, como nos ensinou John Stuart Mill. Percebemos o que quer dizer liberdade, igualdade e fraternidade. Inventámos as mais fantásticas tecnologias e até nos sabemos organizar sem chefes.

E, apesar de tudo isso, vemos as desigualdades aumentarem, o espaço da cidadania encolher, os privilégios das oligarquias reforçarem-se, o apelido valer mais que a competência, a corrupção instalar-se, a justiça desviar os olhos dos poderosos e pôr na cadeia o autor de um graffito, um diploma passado ao domingo valer mais do que um passado à segunda-feira, os salários a diminuírem e os lucros dos bancos a engrossarem, os prejuízos nacionalizados e os lucros privatizados, o desemprego a subir e os salários dos jotas a crescer, a Segurança Social a pagar pensões de miséria a uns e várias pensões de luxo a outros - tudo enquanto nos louvam as vantagens da flexibilidade laboral, do despedimento fácil, nos explicam que os salários portugueses estão demasiado altos, que os nossos call centers têm o melhor nível de escolaridade do mundo, que as manifestações só se devem fazer no Norte de África, que a democracia prejudica a produtividade e que os direitos dos trabalhadores são a razão do nosso atraso.


Demitido por assinar documento contra a avaliação de professores


O Coordenador da DREC foi demitido por assinar um documento contra a avaliação dos professores.

Ernesto Paiva, que desde 1996 coordenava a Equipa de Apoio às Escolas de Coimbra, foi chamado na quinta-feira pela directora regional de Educação do Centro, que, diz, lhe anunciou que estava demitido daquele cargo. Motivo: ter subscrito um abaixo-assinado crítico do actual modelo de avaliação de professores, na qualidade de docente da Escola Secundária Infanta D. Maria. O afastamento e a razão invocada pela DREC estão a provocar a indignação de vários directores de escolas, que admitem tomar uma posição pública sobre o assunto.


06 março, 2011

A Grande Evasão

Manuel António Pina

Quem pode, foge. Muitos sujeitam-se a perder 40% do vencimento. Fogem para a liberdade. Deixam para trás a loucura e o inferno em que se transformaram as escolas. Em algumas escolas, os conselhos executivos ficaram reduzidos a uma pessoa. Há escolas em que se reformaram antecipadamente o PCE e o vice-presidente. Outras em que já não há docentes para leccionar nos CEFs. Nos grupos de recrutamento de Educação Tecnológica, a debandada tem sido geral, havendo já enormes dificuldades em conseguir substitutos nas cíclicas. O mesmo acontece com o grupo de recrutamento de Contabilidade e Economia. Há centenas de professores de Contabilidade e de Economia que optaram por reformas antecipadas, com penalizações de 40% porque preferem ir trabalhar como profissionais liberais ou em empresas de consultadoria. Só não sai quem não pode. Ou porque não consegue suportar os cortes no vencimento ou porque não tem a idade mínima exigida. Conheço pessoalmente dois professores do ensino secundário, com doutoramento, que optaram pela reforma antecipada com penalizações de 30% e 35%. Um deles, com 53 anos de idade e 33 anos de serviço, no 10º escalão, saiu com uma reforma de 1500 euros. O outro, com 58 anos de idade e 35 anos de serviço saiu com 1900 euros. E por que razão saíram? Não aguentam mais a humilhação de serem avaliados por colegas mais novos e com menos habilitações académicas. Não aguentam a quantidade de papelada, reuniões e burocracia. Não conseguem dispor de tempo para ensinar. Fogem porque não aceitam o novo paradigma de escola e professor e não aceitam ser prestadores de cuidados sociais e funcionários administrativos.
'Se não ficasse na história da educação em Portugal como autora do lamentável 'pastiche' de Woody Allen 'Para acabar de vez com o ensino', a actual ministra teria lugar garantido aí e no Guinness por ter causado a maior debandada de que há memória de professores das escolas portuguesas. Segundo o JN de ontem, centenas de professores estão a pedir todos os meses a passagem à reforma, mesmo com enormes penalizações salariais, e esse número tem vindo a mais que duplicar de ano para ano.
Os professores falam de 'desmotivação', de 'frustração', de 'saturação', de 'desconsideração cada vez maior relativamente à profissão', de 'se sentirem a mais' em escolas de cujo léxico desapareceram, como do próprio Estatuto da Carreira Docente, palavras como ensinar e aprender. Algo, convenhamos, um pouco diferente da 'escola de sucesso', do 'passa agora de ano e paga depois', dos milagres estatísticos e dos passarinhos a chilrear sobre que discorrem a ministra e os secretários de Estado sr. Feliz e sr. Contente. Que futuro é possível esperar de uma escola (e de um país) onde os professores se sentem a mais?'


Grupo de trabalho custou 209 mil euros e reuniu-se uma vez em 14 meses


Os ministros da Cultura e das Finanças extinguiram no mês passado um grupo de trabalho que haviam criado um ano antes, para fazer o levantamento dos bens culturais imateriais, mas que apenas se reuniu uma vez e não desenvolveu qualquer actividade de campo. Dois dos membros daquele grupo, que custou ao Estado cerca de 209 mil euros, acusam o Instituto dos Museus e da Conservação (IMC) de nunca ter proporcionado as condições indispensáveis ao seu funcionamento.


05 março, 2011

04 março, 2011

12 de Março


Vasco Pulido Valente, Público

Caro dr. Mário Soares, li com espanto o fim do seu artigo de terça-feira. O sr. não ignora que sempre o considerei o fundador do regime e tenho por si o respeito e a gratidão que essa ideia implica. O sr. fez com grande coragem e tenacidade exactamente o que disse que ia fazer: descolonizou, democratizou e conseguiu que Portugal "entrasse" na "Europa". Mas nós somos de outra era. Para quem nasceu depois de 1980 e cresceu durante Cavaco e o PS, Salazar, Caetano e o PREC têm hoje a mesma realidade, e a mesma importância, de Sancho I. O que interessa agora à gente de 20, 30, 40 anos não é a perversidade da Ditadura, é saber se, como no seu tempo, o regime cumpriu as suas promessas. E a resposta, por muito que lhe custe a si, e a mim, é que não cumpriu.

Em 2011, o país chegou a uma situação de pré-falência, a desigualdade aumentou, os salários diminuíram, os serviços sociais pioraram, o desemprego não pára e até a universidade, coitada, não melhorou muito. Depois de ouvir mentiras sem desculpa sobre a "modernização" de Portugal e o maravilhoso poder da escola, a "geração Deolinda" (desculpe o nome) deu por si sem futuro: sem um futuro imediato ou mesmo longínquo. É compreensível que se revolte e que, na sua revolta, inclua o regime de ponta a ponta. O sr. parece indignado que ela não abra uma excepção para nada, nem para ninguém. Só lhe pergunto como distinguiria ela entre a guerra civil do PSD (que, de resto, já recomeçou) e a desgraça a que nos trouxe o longo e miserável Governo do PS?

O sr. não poupa os promotores da manifestação, marcada pelo Facebook para 12 de Março. Para si, essa gente é "perigosa, anti-democrática e niilista". "Quer ela alguma coisa mais do que o caos?", pergunta o sr. Ou, como a seguir sugere com desconfiança, "espera" talvez que "alguém" (evidentemente um "chefe", e um chefe autoritário) lhe venha por milagre indicar "o caminho" (da ditadura, claro). Gostaria de o avisar de que essa gente "perigosa, antidemocrática e niilista" é um puro produto da sua imaginação. E de que no dia 12 de Março ela irá tranquilamente à Avenida da Liberdade, não para pedir a ressurreição de um tiranete qualquer, mas para protestar contra a maneira como o PS e o PSD governaram Portugal em plena impunidade durante quase quarenta anos. Com os resultados que se vêem.

Seu incondicional admirador, V.P.V


01 março, 2011

O poder do Like


José Vítor Malheiros, Público

Lemos jornais para sermos cidadãos. Quando usamos o Facebook, somos cidadãos.

Os especialistas da comunicação sabem há muito que não são os massmedia nem os "líderes de opinião" que geram a opinião pública, mas sim a comunicação entre os cidadãos que se estabelece na sequência da acção desses media e desses líderes de opinião. Os media funcionam como um motor de arranque, fornecendo informação que os cidadãos digerem e comentam nos seus círculos de relações, em iterações constantes, até que uma opinião se começa a solidificar. Essa opinião pública é influenciada pelos media, mas não é comandada pelos media, pois a discussão subsequente realiza um trabalho crítico sobre a informação que lhe dá origem - e pode pô-la em causa.

Nunca acreditei que as pessoas liam jornais "para se informar" ou "para saber o que se passa no mundo" - como pretendia o paradigma clássico, contaminado por uma ideia escolar da informação. Sempre acreditei que as pessoas querem saber o que se passa (no mundo, na sua rua) para poderem falar uns com os outros. E o tema dessa conversa pode ser, no limite (como vemos acontecer com a televisão e com os tablóides, mestres na auto-referência), o que se passa nos próprios media. É a conversa que conta. Sentirmo-nos ligados aos outros. Comentar, confrontar opiniões, indignarmo-nos, congratularmo-nos e tomar decisões com os outros a partir dessa informação. É essa comunicação, lateral, horizontal, verdadeiramente social, inter pares, que condiciona o nosso uso dos media.

Outra maneira de o dizer é que lemos jornais para sermos cidadãos, concidadãos, vizinhos.

No momento em que a tecnologia facilita de uma forma inesperada esta comunicação entre cidadãos através da Web e das redes sociais - e tendo os media, apesar de tudo, o papel privilegiado que têm nessa discussão -, é estranho constatar que tantos órgãos de comunicação continuam a não perceber este facto evidente e a queixar-se da sua crescente irrelevância. A verdade é que, na prática, a maioria dos jornais ou televisões continua a considerar o jornalismo mais como uma conferência do que uma conversa (para usar a imagem que o guru dos media Dan Gillmor tornou famosa) e a negar-se à interacção com os seus leitores e espectadores. É toda uma nova tecnologia de comunicação que é preciso aprender - e não falo aqui de ferramentas, mas de práticas.

As recentes revoluções na Tunísia e no Egipto - e, em menor grau, a da Líbia - mostram-nos ao vivo o poder desta comunicação horizontal que é o coração daquilo a que chamamos a sociedade civil. Uma comunicação que se transforma em participação e que se apodera do espaço público.

Que as redes sociais põem as pessoas a falar umas com as outras já sabemos. E sabemos que as redes sociais permitem uma fluida (e anónima) partilha de informação. Mas uma das mais extraordinárias (e discretas) inovações das redes sociais é o facto de facilitarem a agregação das pessoas em torno de ideias, de sentimentos, de gostos e de necessidades partilhadas. E de o permitirem de uma forma orgânica e mesmo não discursiva. Os activistas que criaram as páginas do Facebook que contestavam a corrupção, a repressão e as condições de vida no Egipto descobriram, no espaço de semanas, que havia um número inesperado de pessoas como eles. Tudo o que essas pessoas tiveram de fazer para dar um passo em frente foi clicar no botão Like que aparecia no tipo dessas páginas. Algo mais fácil e menos comprometedor do que inscrever-se num movimento, mais fácil do que votar, uma adesão soft, mas que era o sinal de que estas pessoas queriam mudar a sua sociedade, um sinal que arrastou milhões que esperavam. É este poder de agregação, de reunir instantaneamente grandes números de pessoas semelhantes entre si e predispostas a uma acção comum, que o Facebook e outros sites oferecem. É o Like que está a mudar o mundo.

28 fevereiro, 2011

Tachos


O actual Governo de José Sócrates já criou 42 grupos de trabalho, 20 comissões, dois conselhos, dois grupos consultivos, uma coordenação nacional, um observatório e uma estrutura de missão desde que tomou posse no final de 2009.
Há grupos de trabalho que se sobrepõem a comissões, e comissões que se justapõem a outras e à actividade que deveria ser realizada por organismos e entidades já existentes na Administração Pública.

23 fevereiro, 2011

1 milhão na Avenida da Liberdade


1 milhão na Avenida da Liberdade pela demissão de toda a classe política

Este e-mail vai circular hoje e será lido por centenas de milhares de pessoas. A guerra contra a chulisse, está a começar. Não subestimem o povo que começa a ter conhecimento do que nos têm andado a fazer, do porquê de chegar ao ponto de ter de cortar na comida dos filhos! Estamos de olhos bem abertos e dispostos a fazer -quase-tudo, para mudar o rumo deste abuso.

Todos os ''governantes'' [a saber, os que se governam...] de Portugal falam em cortes de despesas - mas não dizem quais - e aumentos de impostos a pagar.

Nenhum governante fala em:

1. Reduzir as mordomias (gabinetes, secretárias, adjuntos, assessores, suportes burocráticos respectivos, carros, motoristas, etc.) dos três Presidentes da República retirados;

2. Redução dos deputados da Assembleia da República e seus gabinetes, profissionalizando-os como nos países a sério. Reforma das mordomias na Assembleia da República, como almoços opíparos, com digestivos e outras libações, tudo à custa do pagode;

3. Acabar com centenas de Institutos Públicos e Fundações Públicas que não servem para nada e, têm funcionários e administradores com 2º e 3º emprego;

4. Acabar com as empresas Municipais, com Administradores a auferir milhares de euro/mês e que não servem para nada, antes, acumulam funções nos municípios, para aumentarem o bolo salarial respectivo.

5. Por exemplo as empresas de estacionamento não são verificadas porquê? E os aparelhos não são verificados porquê? É como um táxi, se uns têm de cumprir porque não cumprem os outros?s e não são verificados como podem ser auditados?

6. Redução drástica das Câmaras Municipais e Assembleias Municipais, numa reconversão mais feroz que a da Reforma do Mouzinho da Silveira, em 1821, etc...;

7. Redução drástica das Juntas de Freguesia.. Acabar com o pagamento de 200 ? por presença de cada pessoa nas reuniões das Câmaras e 75, ? nas Juntas de Freguesia.

8. Acabar com o Financiamento aos partidos, que devem viver da quotização dos seus associados e da imaginação que aos outros exigem, para conseguirem verbas para as suas actividades;

9. Acabar com a distribuição de carros a Presidentes, Assessores, etc, das Câmaras, Juntas, etc., que se deslocam em digressões particulares pelo País;

10. Acabar com os motoristas particulares 20 h/dia, com o agravamento das horas extraordinárias... para servir suas excelências, filhos e famílias e até, os filhos das amantes...

11. Acabar com a renovação sistemática de frotas de carros do Estado e entes públicos menores, mas maiores nos dispêndios públicos;

12. Colocar chapas de identificação em todos os carros do Estado. Não permitir de modo algum que carros oficiais façam serviço particular tal como levar e trazer familiares e filhos, às escolas, ir ao mercado a compras, etc;

13. Acabar com o vaivém semanal dos deputados dos Açores e Madeira e respectivas estadias em Lisboa em hotéis de cinco estrelas pagos pelos contribuintes que vivem em tugúrios inabitáveis....

14. Controlar o pessoal da Função Pública (todos os funcionários pagos por nós) que nunca está no local de trabalho. Então em Lisboa é o regabofe total. HÁ QUADROS (directores gerais e outros) QUE, EM VEZ DE ESTAREM NO SERVIÇO PÚBLICO, PASSAM O TEMPO NOS SEUS ESCRITÓRIOS DE ADVOGADOS A CUIDAR DOS SEUS INTERESSES, QUE NÃO NOS DÁ COISA PÚBLICA....;

15. Acabar com as administrações numerosíssimas de hospitais públicos que servem para garantir tachos aos apaniguados do poder - há hospitais de província com mais administradores que pessoal administrativo. Só o de PENAFIEL TEM SETE ADMINISTRADORES PRINCIPESCAMENTE PAGOS... pertencentes ás oligarquias locais do partido no poder...

16. Acabar com os milhares de pareceres jurídicos, caríssimos, pagos sempre aos mesmos escritórios que têm canais de comunicação fáceis com o Governo, no âmbito de um tráfico de influências que há que criminalizar, autuar, julgar e condenar;

17. Acabar com as várias reformas por pessoa, de entre o pessoal do Estado e entidades privadas, que passaram fugazmente pelo Estado.

18. Pedir o pagamento dos milhões dos empréstimos dos contribuintes ao BPN e BPP;

19. Perseguir os milhões desviados por Rendeiros, Loureiros e Quejandos, onde quer que estejam e por aí fora.

20. Acabar com os salários milionários da RTP e os milhões que a mesma recebe todos os anos.

21. Acabar com os lugares de amigos e de partidos na RTP que custam milhões ao erário público.

22. Acabar com os ordenados de milionários da TAP, com milhares de funcionários e empresas fantasmas que cobram milhares e que pertencem a quadros do Partido Único (PS + PSD).

23. Assim e desta forma Sr. Ministro das Finanças recuperaremos depressa a nossa posição e sobretudo, a credibilidade tão abalada pela corrupção que grassa e pelo desvario dos dinheiros do Estado ;

24. Acabar com o regabofe da pantomina das PPP, que mais não são do que formas habilidosas de uns poucos patifes se locupletarem com fortunas à custa dos papalvos dos contribuintes, fugindo ao controle seja de que organismo independente for e fazendo a "obra" pelo preço que "entendem"...;

25. Criminalizar, imediatamente, o enriquecimento ilícito, perseguindo, confiscando e punindo os biltres que fizeram fortunas e adquiriram patrimónios de forma indevida e à custa do País, manipulando e aumentando preços de empreitadas públicas, desviando dinheiros segundo esquemas pretensamente "legais", sem controlo, e vivendo à tripa forra à custa dos dinheiros que deveriam servir para o progresso do país e para a assistência aos que efectivamente dela precisam;

26. Controlar a actividade bancária por forma a que, daqui a mais uns anitos, não tenhamos que estar, novamente, a pagar "outra crise";

27. Não deixar um único malfeitor de colarinho branco impune, fazendo com que paguem efectivamente pelos seus crimes, adaptando o nosso sistema de justiça a padrões civilizados, onde as escutas VALEM e os crimes não prescrevem com leis à pressa, feitas à medida;

28. Impedir os que foram ministros de virem a ser gestores de empresas que tenham beneficiado de fundos públicos ou de adjudicações decididas pelos ditos.

29. Fazer um levantamento geral e minucioso de todos os que ocuparam cargos políticos, central e local, de forma a saber qual o seu património antes e depois.

30. Pôr os Bancos a pagar impostos.

Um dia feito de vidro




22 fevereiro, 2011

Falar fora da caixa

José Vítor Malheiros, Público

As organizações precisam de aprender a experimentar o novo espaço público de comunicação.

Uma das coisas mais estranhas que acontecem quando se fala de novas tecnologias - ou de novos serviços de base tecnológica - é a facilidade com que tantas pessoas confundem as suas inclinações com o impacto da tecnologia na sociedade.

Há 25 anos, ouvia pessoas à minha volta dizer que não achavam que o fax fosse necessário porque elas continuavam a mandar cartas pelo correio. Há 20 anos, ouvia pessoas dizerem que não achavam que o mail servisse de muito porque elas não o usavam e nunca tinham sentido necessidade de o experimentar. Há 15 anos, ouvi dezenas de pessoas (todas o negam hoje) dizer que a Internet não ia mudar nada de essencial como pensavam os "deslumbrados da tecnologia" (entre os quais estaria eu) porque eles não a usavam e preferiam "ir às bibliotecas" ou qualquer coisa do género. Depois ouvi a mesma coisa a respeito do Instant Messaging ("Não vejo necessidade. Eu uso mail"), dos livros digitais ("Não me parece que tenham futuro. Eu prefiro o papel"), do chat ("Eu, quando quero falar com alguém, telefono"), dos blogs ("Não tenho paciência") e ouço-o agora em relação ao Twitter e a outras redes sociais como o Facebook - mesmo quando os acontecimentos no Norte de África nos oferecem provas insofismáveis do seu poder. Claro que a generalização do uso destas ferramentas acaba por envolver também as pessoas que começaram por recusar a sua existência, a sua utilidade e o seu potencial, mas a verdade é que o número de cépticos e a profundidade do cepticismo parecem com frequência completamente desfasados em relação ao óbvio potencial.

Uma das razões para estas atitudes é o facto de a nossa cultura privilegiar a imagem conservadora. Errar pelo lado da prudência parece sempre preferível a exagerar no entusiasmo. Uma pessoa céptica, que gosta de "esperar para ver" e que "não vai em modas" parece sempre mais séria que uma pessoa entusiasmada com a última tecnologia. O único problema é que, se pode parecer mais séria, não o é necessariamente.

Ser prudente em relação à adopção de uma tecnologia é uma opção sensata. Mas adiar a experimentação de uma nova tecnologia até ao momento em que a sua ignorância se torna um factor de atraso em termos competitivos e de exclusão em termos sociais é tudo menos sensato. A "aposta na inovação" de cuja necessidade nos falam há tantos anos que já nos enjoa devia passar precisamente pela experimentação, pelo entusiasmo pelas coisas interessantes antes de elas se tornarem mainstream, coisas que podem falhar mas que nos oferecem oportunidades de aprendizagem únicas.

As redes sociais online são, neste momento, o exemplo canónico da nova tecnologia que se situa entre o entusiasmo dos deslumbrados e a atitude blasée dos cépticos. Não é que alguém defenda que não se devam usar, mas muitos continuam a achar que isso deve ser feito apenas "pelos outros" ou "pelos mais jovens". Apesar de ser evidente que a sua importância vai continuar a crescer. O trabalho, a política, a educação, os negócios, as relações pessoais, os hobbies, a acção social passam cada vez mais pelas redes sociais. Apesar disso, continuamos a ouvir, um pouco por todo o lado, comentários do tipo "Não percebo como se pode achar graça ao Facebook. Aquilo é só disparates!"

Uma das razões para esta dificuldade na avaliação da ferramenta provém do facto de no Facebook convergirem diferentes planos da nossa vida (pessoal, profissional, familiar) e diferentes tribos (adolescentes, corporações, colegas) que não estamos habituados a ver coabitar. Há muitas pessoas que convivem mal com esta babel, mas o regresso à toca não é uma opção. As organizações precisam de aprender a sair das suas caixas com ambiente controlado e arriscar-se a experimentar o novo espaço público de comunicação.

19 fevereiro, 2011

Cristina Branco: Não há só tangos em Paris




Olhares


A ideia foi simples: esconder uma câmara nas costas e passear-se pelas ruas de Los Angeles com umas calças justas e sensuais....e ver no que dá.
A ideia é de uma rapariga norte-americana, que quis provar que todos olham para o rabo de uma mulher considerada "jeitosa".



18 fevereiro, 2011

Os claustros e a tecnologia


A freira María Jesús Galán tornou-se conhecida por usar o Facebook. E foi o mesmo Facebook que a tornou ainda mais famosa ao motivar a sua expulsão do convento de Santo Domingo el Real, de Toledo, Espanha.

Zero de certezas





15 fevereiro, 2011

A mais surpreendente das invenções árabes


José Vítor Malheiros, Público

A revolução de massas pacífica e vitoriosa em nome da democracia e do doce perfume da liberdade.

É verdade que não sabemos se o exército egípcio vai manter as suas promessas. É verdade que não sabemos se haverá liberdade de expressão e de reunião para poder fundar partidos e fazer uma campanha eleitoral livre. E nem sequer sabemos se as eleições serão mesmo livres. E não conhecemos a real implantação dos fanáticos islamistas, nem sabemos até que ponto as posições conciliadoras da Irmandade Muçulmana das últimas semanas são tácticas ou sinceras. Nem sequer sabemos que percentagem da população é que faz parte ou se revê na "geração Facebook" que desencadeou a contestação que se transformou em revolução e que fez cair o regime. E, se é verdade que Mubarak caiu, nem sequer podemos dizer com rigor que o regime caiu, porque os militares são os mesmos de antes e o Governo é quase o mesmo de antes.

Tudo isso é verdade. Mas a verdade que se sobrepõe a todas as outras é que, para já, a ditadura foi decapitada, o povo egípcio, seguindo o exemplo do povo tunisino, levou a cabo uma revolução de massas pacífica e vitoriosa em nome da democracia e que, num Egipto que conheceu milénios de autocracia se respira hoje, para usar as palavras de Farah, uma jovem manifestante de 23 anos, "o doce perfume da liberdade". Essa é a verdade mais importante porque ninguém quer perder a liberdade que se provou e porque o exercício cívico da liberdade que vimos no Egipto deita por terra todos os argumentos paternalistas que sustentam as ditaduras.

Um perito no mundo árabe, entrevistado há dias num canal de televisão, depois de traçar os cenários possíveis para o futuro do Egipto, dizia, com uma sinceridade desarmante e uma felicidade evidente, algo como "Eu estou a dizer isto mas a verdade é que não faço a mínima ideia do que vai acontecer, ninguém faz a mínima ideia. Porque ninguém fazia a mínima ideia de que isto ia acontecer e aconteceu". Alguém sabia que havia uma geração Facebook no Norte de África há três meses?

Lembram-se do que se dizia dos países árabes, onde a democracia era impossível? Quem nos diria que uma tal lição de civismo e democracia, de amor pela liberdade, de coragem e de não-violência nos viria da Tunísia e do Egipto? É verdade que há pessoas como o comerciante Ahmad Sudain, que Paulo Moura citava ontem aqui no PÚBLICO, que acham que o Egipto está perdido porque os egípcios são gente selvagem que não sabem viver em democracia. Mas esses são os que olham para o passado e o futuro ainda não existe. Nem olhando para a frente se consegue vê-lo. É preciso fabricá-lo. Como estão a fazer os jovens que, depois da revolução limpam a praça Tahrir, com uma vassoura numa mão ou uma garrafa de diluente, tentando limpar os graffiti nas paredes. Ou os sites que estudam a sua transformação em movimentos cívicos, os movimentos cívicos que consideram a sua transformação em partidos, os grupos de vizinhos que criam comissões de bairro para experimentar o poder de decidir do seu futuro, os amigos que aprendem a discutir política nos cafés (lembram-se do 25 de Abril?...), os artistas que querem estar em todo o lado, os cidadãos que distribuem panfletos a dizer "Hoje este país é o teu país. Já não temos desculpas".

A contestação tunisina e egípcia pediu o impossível e o impossível aconteceu (há um eco que grita "Soyez réalistes..."). E agora? Agora que já se sabe que esse desejo do impossível a que se chama esperança pode afinal ter um fim feliz, pelo menos por enquanto, pelo menos para já, agora que se sabe que tudo é afinal possível, já não se trata de esperança mas de paixão. Paixão para construir o futuro. Há quem faça um sorriso cínico ao ouvir as palavras de Farah: "Talvez o mundo mude depois disto." Mas nós sabemos que isso é possível. Talvez. Por agora, isso chega-nos.

14 fevereiro, 2011

Egito: é difícil fazer melhor


Rui Tavares, Público

Se eu fosse egípcio, teria acordado no sábado pensando: será que é verdade? Aconteceu mesmo? O Mubarak já não é Presidente? E depois, teria perguntado: e agora? O que vai acontecer? Não me teria lembrado disto: pegar numa vassoura e ir varrer as ruas. E foi isso que muitos egípcios fizeram.

Esta revolução egípcia será estudada durante décadas. Até que cheguem os primeiros estudos feitos por cientistas sociais, historiadores e estatísticos, não conseguiremos entender como foi possível organizar, motivar e coordenar uma massa de milhões de pessoas com a persistência, a unidade e a concentração que os egípcios demonstraram - e sem um partido, um sindicato ou uma organização religiosa que pudesse monopolizar o protesto. Uma revolução é uma vasta operação de massas, mas enquanto não nos aproximarmos dos milhões de decisões individuais, teremos de tentar apanhar-lhe a alma através dos pormenores significativos, as coisas de que não nos lembraríamos, aquelas que estão fora das previsões. Daí os egípcios varrendo as ruas no dia seguinte à queda de Mubarak.

Passámos uma década tentando prever - passámos mais, mas na última década vivemos obcecados com isso - como reagiria a grande mole do maior país árabe quando finalmente explodisse, como teria que explodir. Ninguém conseguiu imaginar que, após décadas de humilhação quotidiana, eles aguentariam dezoito dias de protestos na rua, fazendo sair por várias vezes multidões de centenas de milhares ou milhões de pessoas em todos o país, ultrapassando as provocações e a desmobilização; quando foram atacados, não abandonaram a praça; quando o movimento perdia o gás, iam buscar reservas sabe-se lá onde.

Varrer as ruas e limpar os monumentos significa que os egípcios tomam posse do seu país, e que o seu movimento é acima de tudo reconstrutivo. Claro, tudo pode ainda correr mal. O Exército pode desejar calcificar-se no poder, a Irmandade Muçulmana pode corresponder aos piores pesadelos ocidentais; e parte-se de tão alto que é impossível, daqui a tempos, não haver desiludidos da revolução. Poderíamos encher colunas e colunas com aquilo que poderia correr mal; a isso poderíamos acrescentar a mesquinhez, a ignorância e até o racismo com que muitos comentadores se têm referido à revolução egípcia, como se ali estivesse um povo embrutecido ao qual houvesse de ser negada a emancipação.

Para isso seria preciso recusar aquilo que os egípcios fizeram até agora. Sim, tudo pode ainda correr mal. Mas não poderia ter corrido melhor até agora.

Mas acima de tudo, para justificar o grau de ridículo e bilioso pessimismo perante a revolução egípcia, seria preciso dizer: que fazer de diferente, então? Manter Mubarak no poder, para lá do prazo de validade, aumentando a pressão dentro da panela, e arriscando uma explosão violenta, só para manter sossegado Netanyahu em Telavive? Abafar agora a revolução com uma junta militar pró-ocidental, arriscando a frustração das expectativas egípcias? E tudo isso para quê?

Alguns ocidentais temem que o Egito possa seguir o caminho do Irão em 1979. Para isso têm de esquecer uma coisa: que o caminho do Irão já foi seguido e os egípcios conhecem-no: é um regime autoritário. E por que raio hão-de os egípcios querer ser como o Afeganistão ou o Iraque? Os árabes são informados e sabem o que se passa na região. Não têm razões para ir por aí. Entre ser como o Irão, o Afeganistão, o Iraque, a louca Líbia e - por exemplo - a Turquia, que preferirão os egípcios? Ai que pergunta tão difícil.


13 fevereiro, 2011

Milhares nas ruas contra Berlusconi e a favor da "dignidade das mulheres"


Milhares de pessoas, na sua grande maioria mulheres, estão a manifestar-se em várias cidades de Itália para “defender o valor da dignidade das mulheres” numa altura em o primeiro-ministro italiano se arrisca a ser julgado por abuso de poder e práticas sexuais com uma prostituta menor de idade.