25 outubro, 2003

Recortes de imprensa

A propósito do que tem vindo a acontecer, aqui ficam alguns recortes de imprensa.

Miguel Sousa Tavares, no Público de 14/10/2004:
Com dois dias de intervalo, conhecemos dois acórdãos do Tribunal da Relação de Lisboa referentes à prisão preventiva do deputado Paulo Pedroso. O primeiro arrasou a investigação em curso, o trabalho do Ministério Público e a decisão de prisão preventiva do juiz de instrução. O segundo arrasou a defesa do arguido, subscreveu por inteiro a posição do MP e do juiz, mas foi ainda mais longe: numas insólitas e deslocadas considerações, dedicou-se também a arrasar o carácter do suspeito, num tom de ódio que se percebe extensível a toda a classe política. Mais do que decidir que a prisão preventiva era legal, os desembargadores passaram directamente à sentença condenatória, acrescentando-lhe o enxovalho do arguido e um panfleto político para destinatários certos. Socorrendo-me do "Dicionário da duplicidade quotidiana", de Pacheco Pereira, confesso que "nunca antes" tinha visto tal coisa. Mas os tempos vão, de facto, para coisas nunca antes vistas.

Helena Matos, no Público de 15/19/2004:
A culpa é do sistema. Em Maio, o bastonário da Ordem dos Advogados e dirigentes do PS discutiram documentos em segredo de justiça. O bastonário não considerou que tal colidisse com o seu cargo e os dirigentes do PS também não. Em Outubro, o mesmo bastonário sugeriu que se pusesse termo ao procurador-geral da República porque este não põe termo às fugas ao segredo de justiça. No mesmo mês de Outubro, o PS considera também que as fugas ao segredo de justiça visam destruir os dirigentes daquele partido.

Augusto Santos Silva, no Público de 15/19/2004:
Duas últimas perguntas, dirigidas aos cínicos. Dizem que o PS ficou prisioneiro do processo da Casa da Pia. Mas não seria esse o objectivo subjacente à implicação de Paulo Pedroso? Dizem que a liderança de Ferro Rodrigues foi irremediavelmente atingida com a divulgação selectiva de expressões colhidas em escutas. Sim, é verdade que levou um tiro à queima-roupa, e pelas costas. Mas o que se espera de democratas é que emprestem punhais aos assassinos ou que os combatam, defendendo a liberdade e o direito?
Portanto, da minha parte, é não, essa palavra-chave da liberdade. Não cedo à tentação fascista de destruir pessoas nos telejornais. Não cedo à tentação totalitária dos poderes ocultos. Não cedo aos justiceiros que só aceitam as decisões dos tribunais se lhes forem favoráveis. Não cedo aos cínicos, que me convidam a reduzir a vida cívica a uma sucessão de abutres. Não cedo a quem quer condicionar ou diminuir a liberdade.


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