21.06.2009, Vasco Pulido Valente, no Público
Um grupo de economistas resolveu fazer um aviso aos portugueses. Não é um grupo qualquer: são os grandes nomes do país. São antigos governadores do Banco de Portugal, antigos ministros das Finanças, professores, empresários, deputados. Politicamente vêm de toda a parte, excepto do PC e do Bloco, e têm, em conjunto, uma experiência que começou em Marcelo Caetano e chega até hoje. É impossível em qualquer profissão reunir tanta autoridade em tão pouca gente. E o que dizem eles? Dizem que a última década (dominada em grosso pelo PS) foi um desastre imitigado e profundo, que Portugal está numa situação precária e, além disso, perigosa e que Sócrates deve mandar rever os seus "megaprojectos" por um "painel", nacional e estrangeiro, de "reconhecida competência e independência".
Nunca nenhum governo, em véspera de eleições, sofreu um vexame parecido: uma espécie de moção de não-confiança de uma elite incontestável e prestigiada. Os 28 signatários do aviso condenam Sócrates sem apelo; e, pior ainda, não querem que seja ele a decidir - como entender e com os conselheiros que escolher - a estratégia do investimento público. Por outras palavras, pensam que Sócrates se enganou de tal maneira, que, fora o Presidente da República e o Parlamento, precisa também de um tutela externa, que ele não possa iludir, ignorar ou influenciar. Daqui em diante, qualquer medida ou declaração do primeiro-ministro sobre política económica ou financeira encontrará sempre um cepticismo geral. Por muito que se esforce, a sombra dos 28 cairá sempre entre ele e o país.
Verdade que Manuela Ferreira Leite já insistira na substância das teses dos 28 e que o prof. Cavaco, aqui e ali, insinuara numa frase o seu acordo de princípio. Mas Ferreira Leite e Cavaco pela sua própria posição inspiram inevitavelmente um certa suspeita. Os 28, pelo contrário, sem interesse directo nos resultados de Outubro (ou de Setembro) e não falando por nenhum partido ou instituição, não correm o risco de provocar automaticamente a incredulidade ou as reservas do público. Por que razão iriam Cadilhe ou Silva Lopes, Beleza ou João Salgueiro, Mira Amaral ou Daniel Bessa mentir ou exagerar? Se resolveram correr o risco de censura e maçadas, numa terra de medo e conformismo, é porque achavam o caso de força maior. Merecem o nosso crédito. Como Sócrates não tardará a verificar.
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