29 abril, 2009

Interrogatórios a alunos indignam pais de Fafe


Vários meses depois de Maria de Lurdes Rodrigues ser recebida com ovos em Fafe, um inspector foi ouvir os estudantes da escola local

A A Inspecção-Geral de Educação (IGE) já assegurou, através de ofício, que nada de ilegal ocorreu na Escola Secundária de Fafe. Mas o presidente da associação de pais, Manuel Gonçalves, não se conforma. Em carta enviada ao procurador-geral da República, ao provedor de Justiça e aos grupos parlamentares, denuncia o método usado por um inspector da IGE que, para apurar o eventual envolvimento de professores numa manifestação contra a ministra, interrogou alguns dos alunos, "incentivando um comportamento denunciante" que, considera, "é absolutamente inconcebível depois do 25 de Abril".
O protesto que deu origem às averiguações da IGE ocorreu em Novembro. Maria de Lurdes Rodrigues dirigia-se a um edifício próximo da Escola Secundária de Fafe, para participar numa sessão de entrega de diplomas do programa Novas Oportunidades, quando cerca de 200 alunos se aproximaram, vaiando a ministra e arremessando ovos contra as viaturas oficiais. A ministra nem chegou a sair do automóvel e a manifestação não durou muito, ao contrário das consequências, que se prolongaram no tempo.
O conselho executivo da escola, os pais e as associações sindicais vieram a terreiro criticar a forma como os estudantes protestaram contra o estatuto do aluno. Mas nem assim os ânimos serenaram. Vinte quatro horas depois, em Baião, miúdos armados com ovos esperaram por um governante que não apareceu. E, dias mais tarde, era a vez de os secretários de Estado Jorge Pedreira e Valter Lemos serem alvejados com ovos e tomates, em Lisboa, ao que reagiram dizendo não acreditar que as manifestações fossem espontâneas.
"As perguntas feitas aos alunos permitem-nos deduzir que é isso que pretenderão provar - que eles foram manipulados, nomeadamente pelos professores", comentou ontem, em declarações ao PÚBLICO, Paulo Nogueira Pinto, ele próprio docente (noutra escola) e pai de uma das alunas interrogadas pelo inspector da DGE. "Como é que souberam que a ministra vinha a Fafe? Quem é que se lembrou de fazer a manifestação? Os professores deram aulas? Marcaram faltas a quem não esteve na sala? Como é que os alunos saíram da escola? Estava algum funcionário à porta?", desfia Nogueira Pinto, exemplificando perguntas a que a sua filha, aluna do 10.º ano, teve de responder.
Segundo diz, ela foi escolhida "de forma mais ou menos aleatória". Estava a terminar uma aula de Educação Física quando o inspector pediu ao professor que lhe indicasse alunos com 16 anos ou mais. "Ela fazia parte do grupo e, como já tinha acabado os exercícios, foi indicada ", explicou.
Nogueira Pinto diz não duvidar da veracidade do esclarecimento da DGE que, em resposta à sua reclamação, informa que o interrogatório foi legal na medida em que foi feito a jovens maiores de 16 anos, imputáveis para fins penais. Insiste, no entanto, que, "do ponto de vista ético, o método é profundamente incorrecto".
Aquele pai contesta o facto de a aluna, de 16 anos, ter sido levada para
uma sala que não conhecia para ser interrogada durante cerca de uma hora, e também o facto de, na sua perspectiva, ter sido "incitada a acusar e denunciar pessoas, nomeadamente os seus professores, pelos quais se espera que tenha respeito como figuras de autoridade". "No fim, fizeram-na assi-
nar uma folha com a suposta transcrição das suas declarações, feitas por uma pessoa que a DGE identifica como sendo o secretário do inspector", relatou.
O presidente da associação de pais, Manuel Oliveira Gonçalves, diz que mal foi alertado para o que estava a acontecer, durante o mês de Março, se dirigiu ao conselho executivo, que disse desconhecer como estavam a ser escolhidos os alunos e como decorriam as audições. E que, por isso, auscultou alguns dos estudantes ouvidos, cujos relatos coincidiam com o da filha de Nogueira Pinto.
"Assim como criticámos os alunos pela forma como se manifestaram, agora questionamos a legalidade e a legitimidade de um interrogatório deste tipo", afirmou ontem Manuel Gonçalves. Não se considera "satisfeito com o esclarecimento" dado a Nogueira Pinto. "Por um lado, custa-me a crer que seja legal. Mas, ainda que assim fosse, não é legítimo. Eu nem queria acreditar que isto estava acontecer, tantos anos depois do 25 de Abril", comentou.
O PÚBLICO contactou o vice-presidente do conselho executivo da escola, Rui Fonseca, que, dando conta da ausência do presidente, não quis comentar o assunto, alegando desconhecer pormenores. Também o Ministério da Educação, através do assessor de imprensa, Rui Nunes, se escusou a prestar qualquer esclarecimento.
O protesto contra Maria de Lurdes Rodrigues que deu origem às averiguações do IGE ocorreu em Novembro de 2008 em Fafe.

2 comentários:

Castanha Pilada disse...

É de lamentar que o 25 de Abril sirva de pretexto para a falta de educação pura e simples. Esses pais devem ser tão broncos como as crias que geraram e é uma vergonha que se admita sequer que haja qualquer tipo de indignação. Os meninos têm boa idade e bom corpinho para responder pela m*rda que fizeram e é mesmo isso que falta neste país: responsabilização.
Se fosse um filho meu a atirar ovos fosse a quem fosse já teria que ter respondido perante mim antes de mais nada. Não haja dúvida que assim vamos longe!
Esta porcaria dá vontade de emigrar para o Burundi!

Paulo Pinto disse...

Esse senhor com nome (?) esquisito, se realmente deseja emigrar para o Burundi deve fazê-lo, já que é incapaz de entender o que lê nos jornais e blogs da sua pátria. Fala com ódio e aos insultos sobre o que não sabe, e ainda fala de «falta de educação»! Os alunos que foram interrogados não atiraram ovos nenhuns, e a inspecção não andou a investigar sobre alunos, mas sim em caça às bruxas.
Mas enfim... quem assim se pronuncia não vai dar ouvidos a ninguém, muito menos a um bronco como eu. Senhor Pilada: boa viagem para o Burundi!