O Ministério da Educação, conhecido ao longo de décadas pela sua proficiência, empenhou-se no consulado de Lurdes Rodrigues em racionalizar.
Em nome da racionalização da Educação abriu hostilidades contra os professores. Quis distingui-los. Para os tornar distintos inventou critérios finórios. Diferenciou professores, não com base na experiência lectiva, nem no conhecimento, nem na formação. Promoveu "titulares" contra os que buscam ingloriamente o título. Inventou uma avaliação, um mostrengo burocrático, que não avalia. E, nesta, foi cedendo, cedendo ante a dimensão do protesto dos professores.
A ingente racionalização da coisa educativa minguou. Ficou-se pela pífia exigência da apresentação de objectivos individuais. Mas os objectivos são subjectivos. E muitos professores menos assustadiços não os querem fazer. Agora alguns conselhos executivos andam generosamente a elaborá-los para não terem de aplicar medidas disciplinares aos docentes relapsos que os elegeram.
O objectivo da racionalização era, e é, apenas um: poupar uns cobres. É a razão do tostão.
O gosto de racionalizar é irracional. O Ministério da Educação gosta de avaliação mas não descortina como avaliar. Calculista não sabe calcular. E em questões orçamentais, desleixa-se. Nem contas de merceeiro aprende. E lá vai gastar, este ano lectivo, seiscentos mil euros em horas extraordinárias, irregularmente atribuídas, e em horários indevidamente ocupados.
Para quem gosta de racionalizar não está mal. Relativamente ao ano lectivo anterior houve um extraordinário aumento de 82,9 % nestas despesas. E, o que não é extraordinário nestas horas extraordinárias é que sou eu, juntamente com alguns milhões de outros contribuintes, a pagá-las.
Mas tenho de ser compreensivo. A ministra e os secretários de Estado nunca foram obrigados a frequentar o "Plano da Matemática". A disciplina de "Estudo Acompanhado", que os alunos de 2º e 3º Ciclo adoram porque em muitas escolas funciona com estudo abandalhado, não foi concebida para equipas ministeriais que tudo sabem, não gostam de aprender contabilidade pública em más companhias e desconfiam de quem dela tenha uma ideia.
Contas bem feitas, seiscentos mil euros é uma insignificância. Umas dúzias de professores que não entreguem os objectivos individuais - não progredindo na carreira, ou que sejam chutados para fora do sistema educativo - resolvem esta pequena conta de diminuir.
Quem não tem de se sentir diminuída com trocos é Lurdes Rodrigues. Os grandes desígnios da Educação Nacional, chamem-se paixão ou interesse estratégico, nunca diminuem. Pelo contrário, somam-se e multiplicam-se...
José Alberto Quaresma no Expresso online
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