29 março, 2009

Crime e estatísticas



29.03.2009, Vasco Pulido Valente no Público

Entre o gabinete do coordenador de Segurança e o MAI, o Relatório de Segurança Interna foi estranhamente alterado. Um exemplo: segundo o relatório, o número de "ocorrências" (presumo que de carácter ilícito) no interior e no exterior da escola aumentou em 2008 18 por cento; segundo o MAI, e a sra. ministra da Educação, não aumentou "mais" do que 14 por cento. Não há estatística que não diga o que lhe querem fazer dizer, mas seria simpático que o MAI e a sra. ministra de Educação nos viessem explicar o que pretendem fazer dizer a esta estatística em especial e por que razão atribuem tanta importância aos 4 por cento que mandaram desaparecer ou que desapareceram por si para deleite do Governo. Para qualquer pessoa, 14 por cento já é suficientemente mau e 18 por cento não excitaria de certeza o sentimento de que não existe segurança na escola. Sobretudo, quando a televisão e os jornais contam quase dia a dia histórias de uma violência crua: o professor esfaqueado, o professor agredido, o professor ameaçado (em vídeo) por uma pistola.
Mas suponho que a dra. Maria de Lourdes Rodrigues tem uma capacidade única para se consolar (pelo menos, 4 por cento) da catástrofe em que afundou o sistema de ensino e que o MAI, talvez por uma questão de princípio, nunca admite o fracasso de operações da "casa", como a operação Escola Segura, que, com a criminalidade a crescer a 18 por cento, ficaria com muito má cara e, a 14 por cento, fica pouco acima da média da incompetência nacional, o que não envergonha ninguém. De qualquer maneira, nem os partidos políticos, como o CDS, nem o próprio Sindicato dos Profissionais de Polícia acreditam no relatório de segurança e os portugueses continuam a engolir a ficção de Portugal que o sr. primeiro-ministro acha que eles merecem.
(...)

Sem comentários: