11 abril, 2005

Pedro,vêmo-nos por aí

Ana Sá Lopes no Público:
Não resisti, Pedro. Foi mais forte do que eu. Queria ver-te, Pedro. Fui a Pombal. Apareci naquele medonho pavilhão lá no meio do nada. Nem te digo como, mas convenci um gajo a deixar-me entrar como observadora. Precisava de apalpar o território, ver o que dizias ao partido que te deu 80 por cento dos votos e depois te traíu desta maneira.
Um dos maiores prodígios da vida, Pedro, é a passagem do amor ao desamor. Tu e eu sabemos que não há grandes diferenças entre a vida e a política. As coisas acontecem sem nós percebermos como, olhamos para o lado e a verdade de ontem escapou-se-nos entre os dedos. O amor e a política são uma alucinação, Pedro. Se a vida, ela própria, é uma alucinação, como é que é possível que nós todos, os que vivemos as coisas intensamente, não andemos permanentemente alucinados?
Tu ainda estás para saber o que se passou para que essa maltosa que te deu 80 por cento em Novembro passado esteja agora pronta para te ver pelas costas. Eu ainda estou para perceber porque é que um gajo que, há quinze dias, me amava perdidamente (era o que ele dizia e suponho que uma declaração de amor assim seja o equivalente a 80 por cento dos votos num congresso) tenha deixado de telefonar.
"Não me mataram. Feriram-me gravemente mas não me mataram", dizes tu. Estou na mesma, Pedro. O gajo também me feriu, mas não me matou. Ando melancólica, mas isto passa. Estou aqui para as curvas (e tu também, já percebi). Oh, como estamos fartos de saber, nós os dois, que há mais marés que marinheiros, que quem desdenha quer comprar, que quem semeia ventos colhe tempestades, que depois vem a bonança, que as águas do rio estão sempre a passar debaixo das pontes (esta, se não me engano, é do Cavaco).
Vais andar por aí. Prometeste. Eles vão encontrar-te outra vez, Pedro. Mesmo ferido, meu menino guerreiro, vão apanhar contigo. Julgavam o quê? Se der, vemo-nos por aí. Eu gostava. Acho que podíamos trocar experiências de vida, do amor e da política, de todas essas alucinações. Também já levei muita facada nas costas, tiros da minha própria trincheira (um antigo namorado enganou-me com uma amiga), tenho uma colecção de Henriques Chaves para dar e vender (oh, Pedro, dei o meu ombro a tanta gente que depois me tramou), acho que te compreendo muito bem.
Sabes o que é eu penso do gajo que dizia que me amava perdidamente e agora deu o fora? Que é doido. Ou não está bom agora, ou não estava bom na altura. Olha, doidos são doidos, como essa gente que te deu 80 por cento dos votos em Novembro, 15 dias antes do Sampaio convocar eleições antecipadas. Que é que se pode fazer com doidos? Olha, andar por aí. Pode ser que nos encontremos. Por mim, vou fazer os possíveis.
Um beijo da admiradora (ou algo mais)
Vanessa

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