21 fevereiro, 2010

O PS que fique ciente


Vasco Pulido Valente, Público

O primeiro-ministro, por estranho que pareça, anda em campanha no seu próprio partido. Já reuniu o Secretariado Nacional, a Comissão Nacional e o grupo parlamentar; e vai reunir a também os "companheiros de caminho" das "Novas Fronteiras". Tudo isto é mau sintoma: é o sintoma de que ele começa a perder a confiança da gente a que deve o poder. Mas, como de costume, Sócrates fez de mais. Esta despropositada reafirmação de autoridade não o fortalece. Pelo contrário, revela pública e dramaticamente a sua fraqueza. Claro que será sempre apoiado por órgãos que ele mesmo em grande parte formou e que ninguém vai dizer agora o que, de facto, pensa. Quem está contra ele, não levantará um dedo até o ver perdido. Por enquanto, espera em silêncio e segurança atrás da "lealdade" à seita: uma desculpa inatacável.

Tanto para fora como para dentro, o exercício é frívolo. Principalmente, porque Sócrates nem sequer escondeu a sua verdadeira preocupação: a hipótese (de resto, longínqua) de que o PS, com a cumplicidade de Cavaco, o substitua como primeiro-ministro, continuando no Governo. Fora as piedades da praxe sobre a urgência de pensar nos genuínos "problemas" do país (por outras palavras, de não pensar, nem discutir os sarilhos em que ele alegadamente se meteu), a mensagem desta peregrinação às fontes é muito simples: suceda o que suceder, "o líder sou eu". Sócrates nunca se afasta da sua pessoa e do seu destino, que evidentemente confunde com a pessoa e o destino dos portugueses. Não lhe serviu de emenda o desastre a que essa obsessão pouco a pouco levou.

Foi o ilimitado ego que Deus lhe deu que o provocou a uma guerra com os média, inteiramente nociva e desnecessária. E que, no fundo, explica o desprezo e a fúria com que trata o mais leve obstáculo à sua vontade. Na gabarolice simplória de provinciano como no desrespeito pela oposição, no insulto imperdoável e gratuito como na fantasia de que é uma pura vítima da mentira e da calúnia, há invariavelmente um ponto comum: a ideia de que Sócrates não é comparável à multidão de metecos da política indígena. Que um belo dia os metecos se fartassem dele não lhe passou pela cabeça; e muito menos que pedissem um socialista qualquer mais suportável para o lugar dele. Ele é o líder, o líder sem substituto concebível. Ele é o único Sócrates de Portugal e do universo. O PS que fique ciente

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