Vasco Pulido Valente, Público
Paulo Rangel anunciou anteontem a sua candidatura à presidência do PSD. Parece que se "antecipou" a José Pedro Aguiar-Branco, com que andava a combinar não se percebe o quê. O gesto foi considerado "deselegante" e não lhe trouxe qualquer vantagem, excepto uma entrevista de minutos em que não disse nada de original ou de consequente. Como Aguiar-Branco se vai declarar, ou já se declarou, e Pedro Passos Coelho já anda por aí em campanha, o PSD tem agora três putativos "chefes". É mau? Parece que não. Manuela Ferreira Leite, pelo menos, não acha. "Quantos mais melhor", disse ela, como se estivesse a vender bilhetes para uma sessão de circo e não acreditasse muito no espectáculo. Cá de fora tudo aquilo cheira a improvisação e a desastre.
Porque a verdade é esta: nenhum dos três - ou serão quatro? - artistas que se apresentam entusiasma ninguém. Nunca nenhum fez nada que o recomendasse para inspirar e unificar o partido; ou para, eventualmente (e com muito azar nosso), ser primeiro-ministro. Pedro Passos Coelho é um jovem simpático, produto da JSD, sem peso, prestígio e maturidade, com ideias confusas sobre o mundo e o país. Paulo Rangel passou pela direcção do grupo parlamentar, em que se distinguiu por uma oratória bombástica, à século XIX, e conseguiu depois ganhar uma eleição para o Parlamento Europeu. E Aguiar-Branco, um advogado do Porto, substituiu agora Paulo Rangel em S. Bento, com alguma competência, mas sem grande brilho. Por que razão qualquer deles se imagina destinado a pastorear a Pátria é um puro enigma.
Não representam uma política, uma causa, um movimento. Portugal não os pediu e a esmagadora maioria dos portugueses nem sequer os conhece. De resto, apareceram em cena um pouco ao acaso. Pedro Passos Coelho, porque era da "casa" e as "distritais" gostam dele (coisa que, para o cidadão comum, só o prejudica). Paulo Rangel, porque Sócrates, que detesta toda a gente, o detesta também a ele. E Aguiar-Branco, porque no meio da algazarra vigente conseguiu conservar uma certa suavidade e um módico de boas maneiras. Não é muito. E, pior ainda, manifesta o vácuo em que se tornou o PSD. Um candidato forte corria o risco de abanar e dividir o partido. Estas três nulidades, por mais "rupturas" que prometam, não correm o riso de perturbar o estado comatoso do PSD. São um sintoma, não são uma saída.
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