Helena Matos, Público
1ºNinguém o obrigou a ser primeiro-ministro. Quis ser primeiro-ministro. Logo, não se queixe.
2º Não se esqueça que é muito mais simples para si deixar de ser primeiro-ministro do que para o país ver-se livre de um primeiro-ministro.
3º Não confunda liderança com usurpação de competências. As pessoas que aceitam fazer parte do seu governo não são o prolongamento do seu ego e em muitas matérias, para não dizer em todas, têm mais saber do que o primeiro-ministro. Futebolisticamente falando um primeiro-ministro é como um treinador: um bom treinador é aquele que transforma um conjunto aleatório de jogadores numa equipa.
4º Não se esqueça que quanto mais obcecado viver com o que se diz de si mais dependente vai ficar de jornalistas e comentadores. E um primeiro-ministro dependente de jornalistas e comentadores é um primeiro-ministro que não só não governa como vive sob a suspeição e a tentação de controlar o que se diz dele.
5º É aos portugueses e não aos jornalistas que deve prestar esclarecimentos.
6º Por mais que lhe custe acreditar e por mais injusto que lhe possa parecer foi escolhido para governar e não para dizer mal da oposição.
7º Ser primeiro-ministro é uma circunstância transitória para si mas o que é transitório para si pode tornar irremediável muita coisa na vida dos portugueses. Não complique vidas que já não são fáceis.
8º Por princípio, duvide.
9º Também por princípio ouça muito.
10º Quando já tiver ouvido o que houver para ouvir e tiver duvidado o suficiente de tudo o que ouviu, ou seja quando estiver certo do que vai decidir, decida. E não se esqueça que não existem decisões consensuais. Existem sim boas decisões e más decisões. Decisões fundamentadas e decisões demagógicas. Se tiver razão, o tempo será seu aliado.
11º Antes de assinar o que quer que seja informe-se, estude e pense.
12º Nunca culpe os outros pelos seus erros e falhas.
13º Se o seu sonho é ser aclamado por todos e não ser criticado por ninguém demita-se enquanto é tempo.
14º Não se desculpe com as crises. Ser político é precisamente isso: gerir o inesperado mantendo um mínimo de princípios e assegurando os rituais institucionais que nos separam da choldra. Se os políticos não souberem fazer isto, um director-geral não só bastava como fazia melhor trabalho.
15º Não se esqueça que são os portugueses quem lhe paga o ordenado, o motorista, os telemóveis de serviço, a segurança e todas as restantes coisas. São também os portugueses quem paga ao seu governo e são ainda os portugueses quem sustenta os programas, projectos, obras, reformas e tudo o mais que o seu governo vai aprovar.
16º Não se esqueça que tudo aquilo que lhe pedem que dê, licencie, autorize, aprove, não é seu. É do povo. Ou para ser pago por ele.
17º Nunca, mas nunca, diga que a situação é melhor do que aquilo que realmente é.
18º Não tenha a presunção de que vai fazer tudo bem. Mas recordo que há duas coisas que não pode fazer: uma delas é comprometer a democracia. A outra é tornar-se um problema para o país. A partir daí não há retorno. A sua queda será a única saída possível.
19º Respeite as instituições. Cumpra os rituais da democracia. Dê às palavras o seu valor. São o formalismo e o rigor que asseguram o mínimo de dignidade e auto-estima aos países, sobretudo se estes forem pequenos e pobres.
20º Não confunda o povo com o eleitorado nem o seu partido com o país e muito menos a sua pessoa com Portugal.
21º Não brinque aos legisladores. A lei dever servir as pessoas e não servir-se delas.
22º Nunca esqueça que um dia vai deixar de ser primeiro-ministro e pense sempre que esse dia vai chegar mais cedo do que imagina.
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