27 março, 2008

Como lidar com telemóveis na sala de aula

Sinais inquietantes

As novas tecnologias têm destas coisas...Permitem mostrar o que, supostamente, não era para ser visto. É claro que a tecnologia é aqui a parte mais inocente. O mesmo não se poderá dizer daquilo que se pode fazer com ela é
O caso da escola Carolina Micaelis e este outro caso de uma aula de Economia são dois famigerados exemplos do que por aí prolifera em termos de indisciplina, brutalidade, permissividade e incompetência.
A questão central é esta: como é que foi possível chegar-se a isto? Que alunos são estes? Que professores são estes?

18 março, 2008

Terrear

Matias Alves, no seu Terrear, continua, de modo consistente, a demarcar-se, pela positiva, de muitos outros que têm vindo a terreiro, mais para que lhe olhem para o umbigo do que para esclarecer e contribuir para elevar este debate.
São estimulante os contributos que tem dado para esta causa, aliados à nobreza da sua postura. Nos tempos que correm, isto é uma raridade...

Deixa-me rir (parafraseando Jorge Palma)

Jornal Público de hoje:
"Em comunicado emitido ontem, a Fenprof insiste que a simplificação de procedimentos admitida pela tutela em casos comprovadamente justificados constitui uma ilegalidade (porque viola o que dispõe o decreto regulamentar e comporta alterações não negociadas). E cria um "quadro de desigualdades entre docentes de escolas diferentes e, mesmo, dentro da mesma escola". É neste contexto que a Fenprof exige então a "aplicação da lei, tal como foi aprovada, ou, perante a comprovada impossibilidade de isso acontecer, a suspensão, este ano, da avaliação do desempenho".
Qual a lógica deste tipo de argumentação? É-se preso por ter cão ou por não o ter, é o 8 ou o 80.
Não parece que seja com argumentos deste tipo que se esclareça o essencial da questão ou se contribua para a resolução do impasse. Afinal a Fenprof pretende que a lei seja mesmo aplicada em todo o seu esplendor?
Esta coisa de um uniforme igual para todos já é chão que deu uvas....Quando a lucidez esmorece, surgem argumentos risíveis.

15 março, 2008

Miopia política

Revelando uma particular perspicácia sobre o que são os verdadeiros problemas nacionais, o governo acaba de produzir dois normativos sobre duas áreas vitais: proibição de colocação de piercings (na língua e na genitália), a menores de 18 anos e proibição de importação, criação e reprodução de raças de cães consideradas perigosas.
Estes são, de facto, os verdadeiros problemas nacionais. Tudo o resto, é só fumaça!

11 março, 2008

Perspectivas

No Público de hoje, Miguel Gaspar perspectiva assim as consequências do estado a que se chegou:
"Maria de Lurdes Rodrigues não tem condições para continuar. O problema é que agora José Sócrates não tem condições para a demitir. Foi tudo parar a um beco sem saída
(...)
Os professores explicaram alto e bom som que nenhuma reforma podia avançar quando mais de metade de uma classe desceu à rua. Se continuar, a ministra já não tem poder nem legitimidade.
(...)
José Sócrates bem podia, no domingo, fazer a sua profissão de fé em nome da "razão" e contra os "números". Sabe que houve um momento em que devia ter negociado mas preferiu esticar a corda além do limite. Sabe que perdeu o braço-de-ferro e não o pode admitir. Perdeu ele e perdeu a educação, que ficou irreformável no curto prazo.
(...)
Os professores legitimaram a sua posição de forma inequívoca. A opinião pública percebeu que eles não podem continuar a ser tratados como até aqui. Mas há um perigo. A vitória foi demasiado esmagadora. Por isso, pode embriagar e corre o risco de se diluir noutros protestos".

10 março, 2008

A razão dos números

A propósito dos cem mil professores que participaram na marcha da indignação, afirmou Sócrates:
"O que me convence não é a força dos números; é a força da razão".
Há, nesta afirmação, demagogia qb. Como diz o ditado: o pior cego é o que não quer ver.
Neste caso, a miopia consiste em não ver que os números são a expressão da razão.

09 março, 2008

A dimensão da indignação

A manifestação de ontem dos professores ficou conhecida por "Marcha da indignação". A indignação é legítima para quem tem sido sistematicamente tão maltratado neste últimos tempos. Todo o país teve oportunidade de ver que a indignação é enorme.

A partir daqui não se pode:
- como fez a Ministra, ignorar a dimensão do protesto, dizendo que "não é relevante", pois cem mil pessoas é demasiada gente;
- como fez Sócrates, dizer que as políticas vão continuar e que não se pode parar este processo;
- levar por diante este modelo de avaliação tal como está;
- ignorar a moral dos professores.

07 março, 2008

Como se mede o progresso dos resultados escolares?

Na entrevista que hoje aconteceu na RTP, a Ministra da Educação referiu a importância de avaliar o valor acrescentado que os professores proporcionam aos seus alunos. No site do Ministério da Educação fala-se hoje em "progressos observados".
O que a Ministra não disse, e convinha esclarecer, é o seguinte:
1. Para se conhecer qual é o valor acrescentado, temos primeiro que saber qual é o ponto de partida. Só assim se poderão avaliar os ganhos.
2. Esse tipo de trabalho faz-se, geralmente, com uma coorte de alunos.
3. O valor acrescentado só é devidamente avaliado no final de um período de tempo relativamente longo (três anos é uma boa referência).
4. O valor acrescentado é avaliado em termos do contributo que a escola deu no seu conjunto, mas não em termos do contributo individual de cada professor.

Alguns equívocos do modelo actual nesta matéria:
1. Convém ter presente que a avaliação dita contínua e formativa não avalia só conhecimentos. Avalia e valoriza atitudes e valores.Um exame não avalia nada disto. Assim, não admira que as notas dos exames e da frequência interna não coincidam, pois os critérios que lhes servem de base são diferentes.
2. Procurar evidenciar as diferenças entre as classificações internas que um professor deu e a classificação que o aluno obteve no exame, e ter isso em consideração na avaliação do desempenho do docente é uma verdadeira atrocidade.
3. Quando se diz que "são comparados resultados dos alunos num ano com os do ano anterior, com outros alunos da mesma disciplina e com outras disciplinas da mesma turma" está-se a dizer que se compara o que é incomparável!
4. Quando se diz que "cabe a cada escola definir a metodologia de medição deste critério" [progresso dos resultados escolares], quer isto dizer que o que na escola A é progresso, na B pode ser considerado retrocesso. Ou seja, estamos mesmo perante um sistema de avaliação "objectivo"!

Leitura aconselhável:
Gray, J. et al. (1999). Improving Schools: Performance & Potencial. Buckingham: Open University Press.

06 março, 2008

EQUÍVOCOS E CONTRA-SENSOS NA AVALIAÇÃO DOS PROFESSORES

A avaliação dos professores incendiou o país. O movimento que de norte a sul do país se tem gerado, e em muitos casos com contornos muito espontâneos, não pode deixar de ser interpretado como a assunção de uma nova postura em termos de cidadania, com implicações na construção do nosso futuro colectivo.


Em qualquer modelo de avaliação há um conjunto de interrogações primordiais que urge equacionar, sob pena de se cometerem os mais variados atropelos, e que se podem resumir nas seguintes: porquê avaliar, o que avaliar, como aliar, quando avaliar.
A razão de ser da avaliação legitima-se pelas funções que desempenha, e estas não podem ser dissociadas dos restantes elementos do processo de avaliação. O tipo de enfoque ou o uso que se faz dos resultados da avaliação condiciona e determina não só (a informação que se recolhe, mas também os meios utilizados nessa recolha. Por isso, o que se avalia e o modo como se avalia são duas ordens de questões que são susceptíveis de não serem satisfatoriamente equacionadas quando se esbate a função que preside à avaliação.
O que é que está em causa nesta avaliação? Em primeiro lugar isto: “a avaliação do desempenho é obrigatoriamente considerada para efeitos de progressão e acesso na carreira”. É seguramente esta a pedra de toque de toda a avaliação. Se fosse possível retirar-lhe esta carga sumativa, e perspectivá-la com uma função eminentemente formativa, de imediato assumiria contornos totalmente distintos.
Por outro lado, afirma-se que “a avaliação de desempenho do pessoal docente visa a melhoria dos resultados escolares dos alunos e da qualidade das aprendizagens”. Há aqui um equívoco estrutural, ao confundir-se desempenho com eficácia. O desempenho do professor diz respeito ao seu comportamento no trabalho. Por isso, o desempenho refere-se mais ao que o professor faz do que ao que pode fazer isto é, ao quão competente é. Sendo específico à situação de trabalho, o desempenho depende da competência do docente, do contexto em que o professor trabalha e da sua habilidade para aplicar as competências em qualquer momento. Deste modo, o desempenho aparece associado à qualidade do acto de ensinar.
Por sua vez a eficácia do professor refere-se ao efeito que o desempenho do professor tem nos alunos. A eficácia depende não só da competência e do desempenho, mas também das respostas dos alunos. Do mesmo modo que a competência não pode predizer o desempenho em diferentes situações, também o desempenho não pode predizer os resultados em situações distintas.
É diferente avaliar a qualidade do professor, isto é, a sua competência, a qualidade do seu ensino, isto é, o seu desempenho; ou a qualidade do professor e do seu ensino em relação aos resultados dos alunos, isto é, a eficácia do professor. Na citação que anteriormente referimos, o que se pretende avaliar é a eficácia e não o desempenho. Ora, sendo coisas distintas, não se podem avaliar pelos mesmos critérios.
O concurso para professor titular deixou mazelas que dificilmente serão saradas. Os critérios utilizados nesse concurso primaram pela insensatez e cabotinice. Por isso, não é de estranhar que uma parte significativa do presente mal-estar docente resida aqui, na divisão artificial e arbitrária, que a partir de então se gerou. Grande parte dos que vão ser avaliados não reconhece nos avaliadores (professores titulares) competência para tal. Este facto não só inquina o sistema de avaliação como provoca o seu total descrédito.
Conceber um modelo de avaliação que se repete de dois em dois anos é revelar falta de lucidez intelectual, moral e política. As incomensuráveis tarefas a que avaliadores e avaliados têm que se sujeitar, deixa pouca margem de manobra e de tempo para o que é verdadeiramente essencial na função docente.
Muito haveria a dizer quanto ao que se avalia e ao modo como se avalia. Vamos somente referenciar alguns contra-sensos.
O critério “classificação nas provas de avaliação externa e respectiva diferença relativamente às classificações internas” não só não é aplicável a todos os professores e a todas as disciplinas, como nunca será possível estabelecer parâmetros justos a partir dos quais se possa afirmar qual o contributo do professor para a maior ou menor diferença verificada na duas classificações. Estamos em pleno reino da arbitrariedade.
Como se avalia o contributo do professor para a prevenção e redução do abandono escolar? Um docente pode empenhar-se muito e “perder” um número significativo de alunos, enquanto que um outro docente não se empenha e “não perde” nenhum aluno. Como se classifica cada um deles? O que vale mais? O contributo, o esforço ou a taxa de abandono?
Situação semelhante se verifica no indicador “progresso dos resultados escolares dos alunos”. Que tipo de progresso é este? É calculado em que base? Que contas é necessário fazer em relação a cada aluno, a cada turma, a cada disciplina, a cada ano, para se dar a ilusão que todas as variáveis foram contempladas? Entramos no reino do misticismo pleno.
Questões semelhantes se poderiam colocar, por exemplo, em relação ao “empenhamento e a qualidade da participação do docente” e ao que isso pode significar.
Se um professor tiver a ousadia de faltar, um dia sequer, nos dois anos de serviço a que se reporta a avaliação, mancha de tal modo o seu desempenho que jamais o poderá ver classificado como Excelente. Estamos, de facto, perante um modelo de avaliação que não se destina a seres humanos.

Gonçalo Simões
(Texto enviado ao jornal Público em 5/3/2008)

Ramiro Marques e a avaliação dos professores

A não perder, no Jornal de Notícias.

02 março, 2008

Votação sobre a avaliação dos professores

Acha que o actual processo de avaliação de professores devia ser suspenso durante este ano lectivo?

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