19 novembro, 2010

Vernáculo

O Tribunal da Relação de Lisboa iliba militar que mandou superior «prò c...». A fundamentação dos juízes é um autêntico tratado sobre a palavra proibida
Segundo o Diário de Notícias, o caso remonta a Agosto de 2009, quando o militar em causa reagiu com desagrado à recusa de um superior em permitir uma troca na escala de serviço: «Não dá para trocar, então pró c...».
O oficial ofendido, um sargento, decidiu apresentar uma queixa-crime por insubordinação, e o Ministério Público quis levar o cabo a julgamento.
No entanto, o Tribunal da Relação de Lisboa decidiu arquivar o caso. O desabafo do militar não é nennhum crime, mas apenas uma demonstração de «virilidade verbal», conta o DN.
Os juízes desembargadores que fundamentaram o arquivamento explicam que «c... é palavra usada por alguns (muitos) para expressar, definir, explicar ou enfatizar toda uma gama de sentimentos humanos e diversos estados de ânimo. Por exemplo, 'pró c...' é usado para representar algo excessivo. Serve para referenciar realidades numéricas indefinidas ('chove pra c...'; 'o Cristiano Ronaldo joga pra c...'; 'o ácaro é um animal pequeno pra c...'; esse filme é velho pra c...')».
Mais ainda, os juízes admitem que o palavrão funciona por vezes como «verdadeira muleta oratória», sobretudo «no Norte de Portugal», onde «não há nada a que não se possa juntar um 'c...'». E ainda ensinam que há duas teorias para a origem de 'c..'. Ou vem do latim caraculo, que significa pequena estaca, ou é uma palavra genuinamente portuguesa, referente a mastro, muito utilizada na época dos descobrimentos.
Já em 2009, a Procuradoria Distrital de Lisboa tinha arquivado um caso semelhante. Um agente da PSP apresentou queixa contra um procurador que reagiu de forma exaltada durante uma operação stop: «Eu não pago nada, apreenda-me tudo, c...!».

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