26 outubro, 2006

Equívocos na avaliação dos professores

Segundo o Público de hoje "os sindicatos de professores aceitaram hoje o último modelo de avaliação de desempenho proposto pelo Ministério da Educação" (...)
A notícia acrescenta:
Na semana passada, o Ministério da Educação apresentou às 14 organizações sindicais uma quarta versão do ECD, na qual estipula que a apreciação dos pais no âmbito da avaliação do trabalho dos docentes é condicionada à concordância do professor.
A ponderação de critérios como os resultados escolares dos alunos e as taxas de abandono na avaliação de desempenho dos docentes também será revista pela tutela, nomeadamente para ter em conta o contexto sócio-educativo em que a escola está inserida.


Pelos vistos continuam a persistir diversos equívocos sobre esta matéria.
Ao aceitar-se que os pais só participem na avaliação do desempenho se houver a concordância do professor introduziu-se um preceito que só pode servir para proteger os professores incompetentes. Que não vão querer que os pais participem na sua avaliação, claro! Porque os bons não têm naturalmente medo de serem avaliados por quem quer que seja. Mesmo pelos pais.
Não deveria ser a escola a decidir em que circunstâncias, e em relação a que professores, é que os pais deveriam ser chamados a pronunciar-se?
Perdeu-se aqui uma boa oportunidade para se colherem outras informações que seriam importantes na triangulação dos dados sobre o desempenho de alguns professores.
É certo que os pais podem não saber muito sobre o real desempenho dos professores dos seus educandos. Mas sabem (todos nós sabemos!) - pelos relatos dos seus educandos - quando há alguns que são incompetentes. Seria, por isso, importante que lhes fosse dada a oportunidade de opinarem sobre as anomalias que conhecem.
Pelos vistos quer o Ministério da Educação quer os sindicatos não estão interessados em implementar mecanismos que permitam identificar os maus profissionais.

Por outro lado, a introdução de critérios relacionados com os resultados escolares dos alunos e as taxas de abandono, tendo em conta o contexto sócio-educativo em que a escola está inserida, é uma bela metáfora. Que, em última hipótese, pode ser um bom pretexto para enviesar os resultados escolares.
Esperemos para ver como é que isto se vai operacionalizar. Mas não parece que daqui possa resultar nada de substantivamente bom e diferente que venha a ser uma mais valia para melhorar a qualidade do ensino.

2 comentários:

Anónimo disse...

Os sindicatos dos professores estão apostados em manter o faz-de-conta-da-avaliação. À auto-avaliação sucede-se uma avaliação "formativa", sem qualquer consequência "penalizadora" para os medíocres e incompetentes. Neste mesmo espírito igualitário, alguns já aplicam o mesmo modelo para os alunos, com os brilhantes resultados conhecidos.

Por outro lado, a invocação do meio social de origem do aluno como motivo de insucesso, perpetua o determinismo e a discriminação em relação aos mais desfavorecidos: estão condenados ao insucesso, os professores nada podem fazer.

Estas duas questão são suficientemente gravosas para o sistema de ensino, levando-nos a pensar que tudo se vai manter na mesma, que é no fundo o que os sindicatos pretendem

Gonçalo Simões disse...

Subscrevo. Completamente.