27 abril, 2004

Webalbum

Hoje foi dia de começar a organizar o webalbum
Já estão disponíveis as primeiras fotografias. E, quem diria, comecei pelas oliveiras...
Nos próximos dias haverá mais...
Por isso, sigamos - não o cherne, como diria a Margarida Uva parafraseando o O'Neill - mas o link .

Sonhar

"Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida..."

António Gedeão

Sonhar é uma forma de pensar...

25 abril, 2004

O meu 25 de Abril


"Não discutimos Deus e a virtude. Não discutimos a Pátria e a sua história. Não discutimos a Autoridade e o seu prestígio."
António de Oliveira Salazar

A notícia chegou já tarde, próxima daquela hora do crepúsculo em que o pôr-do-sol tinha por hábito acariciar o rio Geba, proporcionando-nos fins de tarde únicos, excessivamente esplendorosos: “tinha acontecido um golpe militar em Portugal e o governo tinha caído”.
O serviço militar tinha-me apanhado a meio de um atribulado curso de Filosofia e, numa gélida noite de Dezembro de 72, a notícia chegou abruptamente: mobilizado para a Guiné. Assim, no dia 25 de Abril de 74 eu não estava na cadeia, Manuel Alegre. Mas encontrava-me, certamente, no meu posto. Jabadá, algures no interior da Guiné, passou a ser um cárcere de uma outra natureza, a partir de Janeiro de 73.
Situada à beira do rio Geba, Jabadá era uma aldeia de tamanho médio. Na orla das tabancas, espalhavam-se, em espaços irregulares, os postos do aquartelamento. Era aí que vivíamos, com uma constante sensação de insegurança a escorrer-nos pelo corpo, pois sentíamos que a nossa vida se encontrava sobejamente desprotegida. E nem o invólucro criado pelas fiadas de arame farpado, que envolviam todo o perímetro do casario, atenuavam aquela sensação.

Naquela noite, cheguei junto do Silva, o capitão, e disse-lhe: “Não volto a sair para a mata. Para mim a guerra acabou.”
Naquele tempo, e com a nossa idade, não discutíamos Deus porque havia demasiadas coisas para viver, e ainda não tínhamos aprendido a ser ateus. Mas discutíamos, ao nosso modo, a Pátria e a Autoridade. Fomos apanhados, em plena flor da idade, por um sistema político que, para defender as então “colónias” portuguesas, enviava para África os seus jovens.
Tínhamos então 21/22 anos e nada havíamos feito para merecer tal castigo. A maior parte de nós possuía uma formação política absolutamente estéril. Pouco conseguíamos vislumbrar por detrás de siglas como MPLA, UNITA; PAIGC, etc. Mas, em matéria de Pátria, estávamos conversados: Cabo Verde, Guiné, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Timor não nos diziam absolutamente nada. Não eram a nossa terra, não eram - isso tínhamos a certeza - a nossa Pátria. Por isso, não podíamos nem tínhamos que as defender. Sentíamos que não era legítimo hipotecar a nossa vida por algo que não nos pertencia.
Assim, cada passo que se dava no interior da mata era vivido como um autêntico jogo de roleta e representava um passo a menos no regresso a Lisboa - como o pôde constatar o Malheiros. Na mata, à nossa volta, reinava uma intranquilidade constante que só podia ser colmatada com a proximidade do aquartelamento, apesar de toda a insegurança que aí vigorava. Mesmo os bombardeamentos de bazooka e morteiro de que, por vezes, éramos vítimas durante a noite, não conseguiam roubar-nos essa nesga de segurança e aconchego. O arame farpado ou um abrigo não eram meros adornos.
Mas as ordens de operações impunham-nos o constante patrulhamento da mata, com incursões em locais distantes situados no interior da floresta - ora de dia, ora de noite, ora dia e noite. O Terreiro do Paço e Bissau comungavam um mesmo desígnio: “acabar com os turras”.
Rapidamente intuímos que a nossa maneira de discutir a Pátria e a Autoridade era permanecer o mais próximo possível do aquartelamento, esquecendo as ordens de operações. Não estávamos ali para apanhar turras; muito menos para ganhar uma guerra, para ganhar medalhas, ou para ganhar o que quer que fosse. Salvar a pele e regressar sãos a casa eram o mote do nosso quotidiano. Por isso, fazíamos tudo o que pudesse salvar-nos, principalmente através do boicote das missões de que éramos incumbidos. O Silva, que coabitava connosco, - formado e promovido num daqueles cursos de aviário, que serviam para formar capitães de modo célere - não imaginava o que se passava, tão ciente estava de que comandava uma companhia composta por leais e dedicados oficiais e praças. E Bissau e Lisboa ficavam demasiadamente longe, para saberem o que se passava no terreno.
Senti, nessa noite, que o Silva tinha deixado de ser comandante da companhia quando ousei dizer-lhe: “não volto a sair para a mata”. Ele olhou-me com os seus tão característicos olhos esbugalhados, fez aquele trejeito de cabeça que nós tão bem conhecíamos (e que nos levou a apelidá-lo de “Tolinhas”) e disparou energicamente: “Mas não podes fazer isso! Ainda não recebemos ordens para acabar com a guerra”. Retorqui-lhe, num tom muito peremptório: “Para mim a guerra acabou!” – e virei-lhe as costas.
No dia 25 de Abril de 74 eu estava em Jabadá, na Guiné. Nesse dia, o pouco que soubemos sobre o que estava a suceder em Portugal, foi suficientemente grande para intuirmos o que se seguia. Nos dias seguintes as notícias foram chegando a pouco e pouco, clarificando as indefinições iniciais. A Revolução dos Cravos tinha mudado radicalmente o regime político. De facto, a guerra tinha acabado. E eu não voltei a sair para a mata.
Tínhamos conseguido sobreviver. O tão desejado regresso a casa estava assegurado.

23 abril, 2004

O regresso ao Peter


A ideia foi da Cristina. Mas foi o Ricardo que a formalizou através de e-mail. Assim, no ano passado, ainda mal tinha desabrochado a primavera, chegava às nossas caixas de correio mais ou menos isto:

Asssunto: TGIF
Texto: Às sextas feiras, a partir das 18h30, no Peter – ali mesmo à beiro rio – para dois dedos de conversa, acompanhados por uma cerveja ou um gin.
Thanks God it’s Friday (TGIF). É uma americanice, mas é mesmo assim.

Levámos a sério o convite e lá nos fomos encontrando, ao longo do ano, numa espécie de ritual de fim de tarde das sextas-feiras, que, com a chegada do Inverno, se interrompeu…

Hoje, estava um desses fins de tarde de pedir Peter. Não resisti e fui até lá.
O gin e a tosta mista continuam esplêndidos.
Ali, perante aquela vastidão de horizonte, todos os pensamentos são altamente permitidos…

Aqui fica o convite: às sextas, a partir das 18h30, no Peter. Quem puder aparece...quem não puder... pode estar em pensamento...

Fotografias e webalbum



Estive, à noite, a organizar fotografias. A pouco e pouco a ideia foi crescendo: vou ter que fazer um webalbum. Que é, neste caso da fotografia, uma maneira simpática de partilha. Ficam, para aperitivo, dois exemplares, dos Jardins Garcia da Horta...



Quando estava a tentar descobrir a nome desta flor só me lembrava de glicínia. Porque será? Depois pensei: mas é uma flor típica da Madeira... Lá tive que ir à Internet para descobrir o nome e, claro, encontrei. É como costumo dizer: "se existe, está na Internet!"
Aqui fica então a estrelícia, acompanhada de uma outra árvore florida - cujo nome desconheço, mas que hei-de descobrir - que tão bela companhia faz à Torre Vasco da Gama.

22 abril, 2004

Alterações ou mudanças?

Comecei por escrever isto: "há coisas que estão a mudar". Depois parei, fiquei a olhar fixamente o verbo mudar e pensei: "Não, é melhor escrever: há coisas que estão a alterar"... Haverá, de facto, diferença entre mudar e alterar? Veremos.
Há coisas que estão a mudar, repito. Umas são menos visíveis que outras. Mas, nem por isso, menos importantes. Porque a visibilidade das coisas não é certamente um bom critério de medição...do seu valor.

Mas, é mais fácil falar de mudanças visíveis. Passei a fazer a pé uma parte do trajecto para a escola. Saio de casa, e vou, à beira rio, até ao metro na Gare do Oriente. Eu e a minha inseparável máquina fotográfica. Deixo aqui duas molduras do que hoje encontrei pelo caminho.
Àquela hora - seriam certamente umas 9 horas, mas não estou certo disso - o rio tinha uma serenidade altamente perigosa... À minha volta um enorme espaço vazio…Caminhava e não tinha pressa de chegar... Apetecia quedar-me ali eternamente...

Em relação à escola decidi (bem, não tenho a certeza se é uma decisão!) que vou passar a abandoná-la mais cedo. As 13h30 são o limite da minha permanência. Mas não é fácil fazer isso, como hoje se constatou...

E.. ainda a propósito de mudanças... também vou cortar o cabelo...


21 abril, 2004

Uma outra música

Nesta semana, que precede o dia 25 de Abril, resolvi pôr no intervalo das aulas uma outra música: Zeca Afonso e Adriano. Os alunos têm refilado...Mas também têm que se familiarizar com outros sons.
E hoje, durante um dos intervalos, ainda houve um bocadinho de Sérgio Godinho...

20 abril, 2004

Saudades de mim

"Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto,
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim."

Mário de Sá-Carneiro

Dúvida

Organizei, há já algum tempo, um CD de música. Tem uma camélia na capa. Chamei-o música variada porque lá dentro há Zeca Afonso, Madredeus, Rui Veloso, Sérgio Godinho, música brasileira, sul-americana... Tem música e letras de que gosto muito, que me dizem muito. São um pedaço de mim.... E gosto que gostem do meu CD...
Hoje, dia 19 de Abril, segunda-feira, quando, no final da tarde, regressava a casa, houve músicas/letras do CD que ganharam uma nova dimensão.

O Sérgio Godinho dizia:
“Hoje é o primeiro dia
do resto da tua vida…”
E os Madredeus:
“Ai que ninguém volta
ao que já deixou…”

Cheguei a casa e senti uma imensa vontade de ir ver o rio. E fui, pois ele fica mesmo aqui à minha beira. Encontrei-o excessivamente nublado e pardo, como aqui se documenta. E pensei: é possível que tenha acabado a primavera?

19 abril, 2004

Pais e filhos

Estive a ler a entrevista que o Dani deu ao Expresso. Fi-lo não pelo Dani, de que mal me lembro, mas pelo Zé Carvalho, o pai, velho colega de curso e de outras andanças.
Diga-se que foi um texto que me incomodou. Ao lê-lo, pensei muitas vezes no Zé a na Luísa, nas alegrias e nas tristezas que aquele filho já lhes deu....

17 abril, 2004

Estou de volta

Cheguei, depois de um périplo por terras nacionais.
Viajei acalentado por sonhos, desejos e esperanças, que amenizaram estes dias primaveris. No regresso, tinha os plátanos da minha rua, que por sinal se chama Rua Ilha dos Amores, todos de verde cobertos.

05 abril, 2004

Bagagem

Parto amanhã, 3ª feira, dia 6 de Abril, para umas mini férias, com o regresso previsto a Lisboa no dia 17. No percurso estão: Porto, Viseu, Paradelinha (muito próximo do Pinhão, no rio Douro) e Castelo Branco.
Na bagagem vão uns quantos livros, a saber: O Manuel Alegre com a Praça da Canção; O Herberto Helder com os Passos em Volta (lembram-se do texto "Os comboios que vão para Antuérpia"?), as Poesias Completas do Alexandre O'Neill. E quando procurava o Manuel Alegre, que não foi nada fácil encontrar na empoeirada estante, redescobri A invenção do Amor do Daniel Filipe e a Queda de um Anjo do Camilo.
A propósito de uma exposição que se vai realizar lá na escola, urge produzir um texto sobre a minha memória do 25 de Abril. Em Abril de 74 eu não estava na cadeia, como escreve o Manuel Alegre, mas quase. Jabadá, algures na Guiné, era um cárcere de uma outra natureza. É sobre isso que vou escrever.
Os livros, para além de nos servirem de mote, são sempre uma companhia. E, por vezes, dizem o que não conseguimos....

04 abril, 2004

Finalmente

Ontem, dia três de Abril, senti mesmo que chegou a Primavera.

A escrita

Se eu não escrevo.... como é que me podem ler?

Dia 1 de Abril

A alteração da data da reunião do 11º I, vinda de quem vem, foi uma diáfana mentira.